Kerry defende diplomacia na Síria e Rússia ignora apelos; hospitais de Aleppo ficam lotados

Por Ellen Francis e Lisa Barrington

BEIRUTE (Reuters) - Os suprimentos médicos estão acabando no setor da cidade síria de Aleppo tomado pelos rebeldes e sob estado de sítio, e as vítimas chegam em levas a hospitais que mal funcionam num momento em que um ataque desenfreado apoiado pela Rússia entrou em seu quarto dia sem que Moscou tenha dado ouvido aos apelos de contenção do Ocidente.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, defendeu nesta segunda-feira seus esforços para negociar com a Rússia sobre a guerra na Síria, apesar do colapso de um cessar-fogo neste mês.

A ofensiva do governo da Síria para recapturar toda Aleppo, com apoio aéreo russo e suporte terrestre iraniano, veio acompanhada de bombardeios que moradores descrevem como inéditos em sua ferocidade.

Cerca de 250 mil civis continuam retidos no setor opositor da maior cidade do país. Há relatos de que centenas de pessoas, entre elas dezenas de crianças, foram mortas desde a noite de quinta-feira por uma arremetida que incluiu pesadas bombas que derrubam edifícios inteiros sobre as pessoas escondidas em seu interior.

Os Estados Unidos classificaram as ações da Rússia em apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad, de "barbárie". Moscou nega estar matando civis e disse que tal retórica do Ocidente poderia prejudicar as chances de se resolver o conflito.

Kerry disse que o fracasso do cessar-fogo não foi a causa do combate, e que a única maneira de parar a guerra era a negociação. "A causa do que está acontecendo é Assad e a Rússia quererem buscar uma vitória militar", disse Kerry a repórteres durante uma viagem para a Colômbia.

"Hoje não há cessar-fogo e não estamos falando com eles agora. E o que está acontecendo? O local está sendo totalmente destruído. Isso não é delirante. Isso é um fato", completou.

BOMBARDEIO VIOLENTO

Países ocidentais dizem que a Rússia pode ser culpada de crimes de guerra por alvejar médicos e remessas aéreas. Moscou e Damasco afirmam só estar bombardeando militantes. Vídeos de Aleppo têm mostrado repetidamente crianças pequenas sendo retiradas de escombros de prédios desmoronados. 

"Os hospitais da cidade de Aleppo estão sobrecarregados de feridos... as coisas estão começando a escassear", disse Aref al-Aref, funcionário da unidade de tratamento intensivo, falando de Aleppo.

"Somos incapazes de trazer qualquer coisa para dentro... nem equipamento, nem pessoal médico. Alguns médicos estão no interior, incapazes de entrar por causa do estado de sítio", contou.

Bebars Mishal, agente da defesa civil que atua no setor rebelde de Aleppo, disse que o bombardeio de domingo para segunda-feira continuou até as 6h (horário local).

    "É a mesma situação. Especialmente de noite, o bombardeio se intensifica, se torna mais violento, usando todo tipo de armas, fósforo, napalm e bombas de fragmentação", disse Mishal à Reuters.

"Agora só há um helicóptero, e só Deus sabe onde ele irá bombardear. Deus sabe que edifício irá desmoronar", disse. "Todos estão assustados... incapazes de sair. Não sabem o que fazer, ou para onde ir".

A Rússia e Assad parecem ter abandonado a diplomacia na semana passada, preferindo apostar em um golpe militar decisivo contra os inimigos do presidente no campo de batalha.

Capturar bairros rebeldes de Aleppo significaria a maior vitória da guerra civil para Assad, esmagando a rebelião em seu último grande bastião urbano.

(Com reportagem adicional de Patricia Zengerle em Cartagena, na Colômbia)

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