Temer tentará controlar falas de ministros após declarações de Moraes sobre Lava Jato
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A mais nova crise de comunicação do governo, deflagrada com as declarações do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, antecipando a possibilidade de uma nova fase da Lava Jato esta semana, levou o presidente Michel Temer a iniciar uma ofensiva para tentar controlar as falas dos seus ministros, confirmaram à Reuters fontes palacianas nesta segunda-feira.
Temer telefonou nesta manhã para Moraes cobrando explicações sobre as declarações do ministro, um dia antes da Polícia Federal efetivamente deflagrar a operação que culminou com a prisão do ex-ministro petista Antonio Palocci. Ao presidente, Moraes disse que não estava fazendo um discurso ou transmitindo informações oficiais, mas em uma conversa informal.
De fato, em um vídeo distribuído pela própria assessoria do Ministério da Justiça, Moraes aparece conversando com integrantes do movimento Brasil Limpo no meio da rua, ao sair de um evento de campanha do candidato ao PSDB à prefeitura de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira. No entanto, fica claro que o ministro fala em uma operação da Lava Jato “esta semana” e ainda diz: “vocês vão lembrar de mim esta semana”.
Temer chegou a chamar Moraes para ir ao Palácio do Planalto ainda nesta segunda, mas o ministro alegou que tinha compromissos em São Paulo e só chegará a Brasília na manhã de terça-feira, de acordo com sua assessoria.
A avaliação no Planalto é que, apesar das explicações de Moraes --repetidas em uma nota, considerada desastrosa, e em entrevista na manhã desta segunda-feira-- “pegou muito mal” a declaração “impensada” do ministro e é hora de um freio nas falas dos ministros.
O ministro da Justiça ainda será chamado ao Planalto para conversar pessoalmente com Temer, mas não é o único. O presidente chamará ainda o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e o ministro da Saúde, Ricardo Barros, os últimos a darem declarações que deixaram o Planalto em situação difícil, aumentando a crise de comunicação do governo.
Auxiliares de Temer lembram que ele não é dado a grandes broncas, mas confirmam que o presidente chamará os ministros “problemáticos” para deixar claro que eles precisam tomar mais cuidado com o que falam.
“Especialmente em período eleitoral, com os ânimos muito acirrados, tem que tomar muito cuidado com o que se fala. E lembrar que tudo respinga no Planalto”, disse uma das fontes.
Os problemas com ministros que falam demais já se transformaram em uma crise para o governo Temer, que vem sendo cobrado para tentar consertar uma estrutura que claramente não tem funcionado. De um lado, parlamentares da base reclamam que o governo vem perdendo a batalha pelo discurso sobre as reformas necessárias, ficando como vilão que irá retirar direito dos trabalhadores.
De outro, as constantes declarações precipitadas dos ministros levam o governo a ficar se desdizendo constantemente. Há algumas semanas, o ministro do Trabalho passou dois dias explicando declarações que deu em uma reunião sobre a possibilidade de o governo apoiar a regulamentação de uma jornada de trabalho de até 12 horas.
Na semana passada, quando Temer estava em Nova York, foi a vez do ministro da Saúde afirmar, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que a proposta de emenda à Constituição do teto de gastos, considerada essencial pelo governo, não seria aprovada este ano.
“O que o presidente irá dizer aos ministros é que precisam tomar extremo cuidado com o que falam, mesmo em declarações fechadas. Não há dúvida de que existem ministros com declarações equivocadas”, disse uma das fontes.
Moraes é um dos primeiros dessa lista e é considerado um dos mais difíceis. Logo na sua primeira semana no cargo, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, defendeu que Temer não precisaria indicar o mais votado entre os procuradores para ser o titular da Procuradoria-Geral da União, como é praxe desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi desmentido no mesmo dia pelo presidente.
Com personalidade forte, Moraes recusa-se a passar por treinamento para lidar com os jornalistas e escolheu diretamente seu assessor de imprensa, sem relação com a Secretaria de Imprensa da Presidência.