Eleição municipal deve ser avassaladora para PT, que terá de voltar às origens para 2018

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - A pesada agenda negativa que tem abalado o PT nos últimos anos deve impor ao partido uma avassaladora derrota nas eleições municipais deste ano, o que forçará a legenda a fazer uma volta às origens para tentar viabilizar um projeto nacional em 2018.

O noticiário político tem revelado um amplo leque de agruras para os petistas, passando pelo impeachment de Dilma Rousseff e chegando ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, expressão máxima do petismo, réu em dois processos relacionados à operação Lava Jato.

Só nos últimos dias a Lava Jato acertou em cheio dois importantes ex-ministros petistas: Guido Mantega e Antonio Palocci. Para lideranças petistas, o partido é vítima de um processo de perseguição política.

"Você tem a criminalização da política e, em especial, a criminalização dos petistas. A mídia projetou que os políticos não valem nada e que os petistas são todos ladrões", disse o secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza.

"Isso vai impactando. Com esse vendaval todo, essa imposição da mídia diuturnamente na cabeça das pessoas, criou-se um ambiente negativo na população anti-PT. Isso tem um impacto", acrescentou.

As pesquisas de intenção de voto têm indicado que o PT que sairá das urnas após o pleito municipal deste ano será um partido bem menor do que o que saiu da eleição de 2012, segundo analistas.

"O quadro para a eleição municipal já está dado... o PT perdeu praticamente metade do seu eleitorado", disse a socióloga e especialista em pesquisas de opinião Fátima Pacheco Jordão.

"O PT nas grandes cidades, sobretudo em São Paulo, que é o seu berço, as pesquisas vão confirmar esse estado de demolição que o PT sofreu", avaliou.

O quadro na capital paulista, atualmente governada pelo petista Fernando Haddad, um dos afilhados políticos de Lula, é o mais simbólico. Haddad ocupa a quarta posição nas pesquisas. Desde 1992, quando a disputa passou a ser feita em dois turnos, o PT sempre esteve na rodada decisiva de votação. Além disso, a quarta posição seria o pior desempenho do partido na cidade, desde sua criação na década de 1980.

As dificuldades do PT, no entanto, não se restringem a São Paulo. No cenário desenhado atualmente pelas pesquisas eleitorais, o partido deve eleger apenas um prefeito de capital, o de Rio Branco, no Acre, que passa longe de ser um território estratégico em termos de ambições eleitorais nacionais.

Em Porto Alegre e Recife, duas capitais mais relevantes, petistas têm boas chances de irem ao segundo turno, mas não são favoritos para vencer.

VOLTA AO COMEÇO

A perda de substância do PT, por conta de um processo de desgaste iniciado ainda na época do mensalão e que vem se acentuando desde 2013, levou o partido a lançar 45 por cento menos candidatos a prefeito do que quatro anos atrás.

Com isso, é praticamente impossível que se aproxime do desempenho de 2012, quando elegeu 638 prefeitos, 17 em cidades com mais de 200 mil eleitores.

"O PT está retornando ao mundo pré-2002, quando ele ainda não tinha vencido no plano nacional. Qual é esse mundo? Menor fôlego para candidaturas, candidaturas com menores coligações, em geral candidaturas únicas ou apoiadas apenas por legendas de esquerda", disse o analista Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada.

"Se eventualmente o partido não conseguir vitórias nos grandes eleitorados, nas grandes capitais, isso vai mostrar a dificuldade de construir um projeto presidencial em 2018."

Uma eventual reação do partido, fundado há 36 anos, passa por uma volta ao passado.

"O debate passa por uma grande renovação do PT. O PT tem um bom estoque de votos do passado, tem uma relação com a sociedade que pode ser retomada através dos padrões mais iniciais da sua fundação", avaliou Fátima Pacheco Jordão.

O secretário de Organização do PT faz um diagnóstico parecido e garante que o pós-eleição será de debates internos dentro do partido.

"O poder, quando você está governando, você atrai forças políticas, você atrai pessoas que às vezes não tem muito a ver com o programa partidário. O PT atraiu muito e essa política, esse gerenciamento de alianças, acabou criando impacto também na organização de base do partido, que é uma das coisas que a gente precisa retomar imediatamente", disse.

O secretário pestista, no entanto, faz questão de minimizar as pesquisas e mostra confiança nas candidaturas petistas também em outras capitais, como Fortaleza e Goiânia.

"Nós nunca ganhamos em pesquisas. Você pode ir até 1980 que em toda a véspera de eleições nós estamos muito atrás nas pesquisas", disse.

Na mesma linha, o deputado federal e vice-presidente do PT, José Guimarães (CE), diz que o PT é um partido "bom de chegada" e convoca a militância.

"Quem diz que o PT vai ser aniquilado, que vai ser varrido do mapa, pode quebrar a cara."

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