Ex-presidente e ex-premiê de Israel Shimon Peres morre aos 93 anos

Por Ori Lewis

JERUSALÉM (Reuters) - O ex-presidente e estadista de Israel Shimon Peres, um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 1994, morreu no hospital na quarta-feira aos 93 anos de idade duas semanas depois de sofrer um grave derrame.

Defensor da paz no Oriente Médio que desempenhou um papel crucial na política israelense durante quase 70 anos, Peres foi pranteado por líderes mundiais e louvado por seu engajamento incansável.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse: "Uma luz se apagou".

"Existem poucas pessoas com quem compartilhamos este mundo que mudam o rumo da história humana, não somente por seu papel nos acontecimentos humanos, mas porque elas ampliam nossa imaginação moral e nos obrigam a esperar mais de nós mesmos", disse Obama em um comunicado. "Meu amigo Shimon era uma destas pessoas."

Apesar de muitas décadas de rivalidade com Peres, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, político de direita que derrotou o então líder do Partido Trabalhista em uma eleição de 1996, o elogiou por ser um porta-estandarte da centro-esquerda e um visionário.

"Houve muitas coisas que concordamos, e o número cresceu à medida que os anos passaram. Mas tivemos desentendimentos, uma parte natural da vida democrática", disse Netanyahu após realizar um minuto de silêncio em encontro de gabinete convocado após o anúncio da morte.

"Shimon conquistou um reconhecimento internacional que correu o planeta. Líderes mundiais queriam estar próximos dele e o respeitavam. Assim como nós, muitos deles irão acompanhá-lo em sua última jornada para o descanso eterno no solo de Jerusalém".

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, emitiu um comunicado classificando a morte de Peres como "uma grande perda para a humanidade e a paz na região". Não ficou claro se ele irá comparecer ao funeral, que acontecerá na sexta-feira no cemitério Monte Herzl de Jerusalém, em um setor dedicado aos "Grandes Líderes da Nação".

Obama, o príncipe britânico Charles, a candidata presidencial democrata Hillary Clinton e seu marido, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, estão entre as pessoas que devem comparecer, noticiou a rádio israelense, embora o Ministério das Relações Exteriores do Estado judeu não pudesse confirmar de imediato a lista de pessoas esperadas.

O presidente da França, François Hollande, confirmou que estará no evento ao lado de seu antecessor Nicolas Sarkozy.

VIDA POLÍTICA

  Peres foi parte de quase todos os grandes acontecimentos políticos de Israel desde sua fundação em 1948. Ao longo de uma carreira de 70 anos, ele serviu em 12 gabinetes e foi premiê duas vezes.

Ele foi eleito pela primeira vez ao Parlamento de Israel, o Knesset, em 1959, e, com exceção de um breve interlúdio no começo de 2006, manteve seu assento durante 48 anos, até se tornar presidente em 2007.

Em todas as funções que exerceu --da elaboração da estratégia de defesa israelense nos anos 1950 até a administração da fundação pela paz que leva seu nome-- Peres ficou conhecido por sua energia e seu entusiasmo, chegando a gravar vídeos bem-humorados no YouTube já na casa dos 90 anos de idade.

"Otimistas e pessimistas morrem do mesmo jeito", afirmou. "Só vivem de forma diferente. Prefiro viver como um otimista."

Ele dividiu o Prêmio Nobel da Paz de 1994 com o falecido primeiro-ministro Yitzhak Rabin e com o também falecido líder palestino Yasser Arafat pela obtenção de um acordo de paz provisório em 1993, os Acordos de Oslo, que jamais se transformaram em um tratado duradouro.

No mundo árabe, seu legado foi eclipsado pelo bombardeio a um complexo da Organização das Nações Unidas (ONU) no vilarejo de Qana, no sul do Líbano, durante uma ofensiva israelense em 1996. Mais de 100 civis abrigados no local foram mortos. Peres era premiê na ocasião, e Israel disse que suas forças visavam militantes que disparavam foguetes das proximidades.

Também há quem acredite que Peres fez pouco para conter a expansão dos assentamentos de Israel em terras capturadas durante a Guerra dos Seis Dias de 1967, ainda que não fosse um defensor agressivo de uma política que Obama descreveu como um obstáculo para a paz.

Desde 2007, quando foi eleito presidente em sua segunda tentativa, Peres desempenhou um papel mais cerimonial, buscando melhorar o perfil internacional de Israel ao mesmo tempo em que trabalhava pela paz por meio de sua fundação e viagens ao exterior.

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