Indicadores do 3º tri mostram fragilidade e economia deve seguir em recessão, apontam analistas

Por Luiz Gerbelli

SÃO PAULO (Reuters) - A safra de dados divulgados recentemente mostra que a economia brasileira ainda não deslanchou no terceiro trimestre e continua em recessão, revelando que os avanços nos índices de confiança não têm se refletido numa melhora concreta da atividade econômica.

A dificuldade de reação ficou evidente com a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que funciona como sinalizador do Produto Interno Bruto, que recuou 0,09 por cento em julho na comparação com junho. A expectativa de economistas consultados pela Reuters era de um avanço de 0,25 por cento.

    "Os números mostram uma ou outra estabilização, mas o grosso dos indicadores ainda é de frustração", avaliou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Entre os indicadores antecedentes também há frustração. A produção de veículos subiu 4,7 por cento em julho ante o mês anterior, mas recuou 6,4 por cento em agosto na comparação com julho.

Já o fluxo de veículos nas estradas diminuiu 2,8 por cento em agosto em relação a julho.

A venda nos supermercados apurada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) teve crescimento real de 1,73 por cento em agosto ante o mesmo mês de 2015, mas recuou 2,65 por cento na comparação com julho.

    "Esses indicadores antecedentes não têm um desempenho consistente e reforçam a queda do PIB neste trimestre, embora deva ser menor do que no segundo (trimestre)", afirmou a economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.

Ela estima retração de 0,2 por cento na atividade econômica neste trimestre ante os três meses anteriores, quando a economia recuou 0,6 por cento. Para o ano, a Tendências prevê queda de 3,1 por cento do PIB.

    Desde que Michel Temer assumiu a Presidência interinamente em meados de maio, houve um avanço da confiança em todos os setores. A melhora do humor ocorreu porque, na visão de analistas, a equipe econômica de Temer tem mais condições de realizar o ajuste fiscal do que a gestão Dilma Rousseff teria, o que pode recolocar a economia brasileira numa trajetória de crescimento caso as medidas saiam do papel.

    Mesmo a indústria --setor que vinha esboçando um quadro de otimismo mais consistente depois de um forte período de retração-- não deverá sustentar uma recuperação neste trimestre. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) estima que a produção industrial deve ter recuado 2,7 por cento em agosto. O IBGE divulga esse dado na terça-feira.  

    "Os nossos números ainda não corroboram um cenário de estabilidade ou crescimento", diz Silvia Matos, economista e coordenadora técnica do Boletim Macro do Ibre/FGV. "A melhora dos indicadores de confiança já era para ter se refletido na economia", diz Silvia.

    Para o trimestre, o Ibre/FGV prevê uma retração do PIB de 0,3 por cento. No ano, a queda prevista é de 3,2 por cento.

    Na projeção do sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fabio Silveira, a economia vai encolher 0,9 por cento no terceiro trimestre. Para ele, a restrição no crédito, que deve recuar 5,5 por cento em termos reais neste ano, dificulta qualquer expectativa de reação mais forte da economia brasileira tão cedo.

"Essa contração do crédito tem sido muito drástica. Sem crédito uma economia não avança e não consegue sustentação", diz Silveira.

    Atualmente, afirma ele, o crédito está mais fraco tanto pela menor disposição da população em se endividar como pela restrição dos bancos em liberar novos empréstimos. Para 2016, a MacroSector projeta uma retração de 3,9 por cento no PIB.

PRECIPITAÇÃO

A recuperação da economia brasileira também deve ser prejudicada pelos juros elevados --atualmente a taxa básica de juros Selic está em 14,25 por cento ao ano-- e pelo crescimento menor da economia mundial.

Nesta semana, a Organização Mundial do Comércio (OMC) reduziu a projeção para o crescimento do comércio internacional para 1,7 por cento. A estimativa anterior era de 2,8 por cento.

"Temos um horizonte que parece ser mais positivo, mas não acho que a volta da economia vai ocorrer tão cedo porque os juros e o comércio internacional não ajudam", avaliou Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Para ela, houve uma precipitação nas expectativas para a melhora da atividade econômica.

"O setor produtivo ainda está bastante machucado por causa da crise, e o mercado de trabalho não completou o seu ciclo. A quantidade de demissões diminuiu, mas os números ainda são bem fortes", afirma.

Zeina destaca que, mesmo que o BC inicie um processo de redução da Selic, os efeitos na economia só devem aparecer com mais força no ano que vem.

(Edição de Camila Moreira e Raquel Stenzel)

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