Demissão de presidente da Apex por chanceler abre crise no governo
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A demissão repentina do presidente da Apex, Alex Carreiro, transformou-se em mais uma crise do governo de Jair Bolsonaro, com a recusa de deixar o cargo e um mal-estar entre o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o Palácio do Planalto.
Após Carreiro trabalhar normalmente na Agência Brasileira de Promoção de Exportações nesta quinta-feira, o Planalto confirmou à noite o nome de seu substituto.
"O Planalto confirma o embaixador Mário Vilalva como novo presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex)", respondeu a assessoria do Planalto a um questionamento da Reuters sobre a demissão de Carreiro.
Os relatos feitos à Reuters por pessoas que acompanharam a crise apontavam para um impasse criado pela decisão de Carreiro de recusar a demissão. O presidente da Apex teve sua demissão anunciada pelo chanceler Araújo no Twitter, ainda com a indicação do embaixador Vilalva para substituí-lo.
Carreiro chegou a ir ao Planalto na manhã desta quinta-feira tentar um encontro com o presidente, mas não foi recebido. O presidente da Apex pretendia apelar a Bolsonaro por sua permanência no cargo.
Quem foi recebido por Bolsonaro, segundo tuíte do próprio presidente já à noite, foi Vilalva.
"Recebi hoje o embaixador Mário Vilalva, indicado pelo chanceler Ernesto Araújo para o cargo de Presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Boa noite a todos", disse Bolsonaro.
DIA NORMAL
Segundo relatos ouvidos pela Reuters, Carreiro foi trabalhar normalmente e teria dito a pessoas que estiveram com ele que só poderia ser demitido por Bolsonaro. Na verdade, fontes ouvidas pela Reuters afirmam que o chanceler, como presidente do Conselho da Apex, poderia sim demitir Carrreiro, apesar de a demissão ter que ser assinada pelo presidente.
No Planalto, o desconforto seria causado pelo fato de Araújo não ter avisado previamente Bolsonaro de que iria demitir Carreiro. O presidente da Apex, que foi assessor do PSL na Câmara, teria sido uma indicação dos filhos de Bolsonaro.
Já no Itamaraty, a reação de Carreiro causou apreensão no gabinete. De acordo com uma das fontes ouvidas, havia o temor de que o próprio Araújo perdesse o cargo no embate com o então presidente da Apex por estar sendo responsabilizado por mais um bate-cabeça no governo.
A assessoria da Apex chegou a informar que "o presidente Alex Carreiro, nomeado para o cargo pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, cumpriu expediente normal na agência nesta quinta-feira, tendo efetuado despachos internos e recebido para audiências autoridades de Estado".
Araújo creditou, em sua conta no Twitter, o afastamento de Carreiro a um pedido do próprio. Fontes confirmam, no entanto, que Carreiro não aceitou pedir demissão, e Araújo o comunicou que teria de sair mesmo assim, forçando o anúncio pelas redes sociais.
O estopim da crise teria sido a decisão de Carreiro de demitir 17 pessoas em sua chegada e estar planejando o afastamento de mais 19, inclusive funcionários com mais de 10 anos de casa. As reclamações chegaram aos gabinetes do Palácio do Planalto e Araújo teria sido cobrado pela crise na Apex.
De acordo com uma fonte, a empresária Letícia Castellari, indicada para a diretoria de Negócios da agência, teve uma briga pública com Carreiro ao assumir o cargo e descobrir que boa parte dos servidores da sua diretoria tinha sido demitida.
Afastada do PSL durante a campanha por ter se indisposto com dirigentes do partido, Castellari se aproximou de Araújo durante a transição e se tornou um dos braços direitos do chanceler.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)
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