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Piñera pede ajuda dos militares apesar de alegações de abuso crescerem

Protestos contra aumento da tarifa no transporte público passaram a abranger críticas ao governo Piñera - Rodrigo Garrido/Reuters
Protestos contra aumento da tarifa no transporte público passaram a abranger críticas ao governo Piñera Imagem: Rodrigo Garrido/Reuters

26/11/2019 17h13

Por Dave Sherwood e Fabian Cambero

SANTIAGO (Reuters) - O presidente do Chile, Sebastián Piñera, pediu nesta terça-feira que os parlamentares permitam que as tropas voltem às ruas para defender elementos cruciais da infraestrutura, apesar de grupos de direitos humanos terem relatado abusos "graves" das forças de segurança ao longo de cinco semanas de tumultos às vezes violentos.

Os protestos contínuos no país contra a desigualdade e a escassez de alguns serviços sociais já deixaram ao menos 26 mortos e milhares de feridos. Eles também prejudicaram o sistema de transporte público da capital, antes motivo de inveja na América Latina, e causaram bilhões de dólares em perdas ao setor privado.

Tumultos ocorreram em países de toda a América Latina, incluindo Colômbia, Equador e Bolívia, nas últimas semanas, quando distúrbios regionais degeneraram em violência e exigências de reformas abrangentes.

Piñera enviou um projeto de lei ao Congresso na manhã desta terça-feira para permitir que os militares protejam linhas de transmissão, usinas elétricas, aeroportos, hospitais e outros elementos da infraestrutura para poder garantir "serviços básicos".

Ele disse que a medida "liberará a força policial... para proteger a segurança de nossos cidadãos".

O anúncio de Piñera veio pouco depois de o grupo de direitos humanos internacional Human Rights Watch dizer em um relatório que a polícia espancou manifestantes brutalmente, alvejou-os diretamente com cilindros de gás lacrimogêneo e atropelou alguns com veículos oficiais ou motos.

"Há centenas de relatos preocupantes de força excessiva nas ruas e de abuso de detidos", disse José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch, depois de se encontrar com Piñera nesta terça-feira.

O grupo não chegou a alegar que os abusos têm sido sistemáticos, mas suas conclusões se alinharam a um relatório da semana passada da Anistia Internacional no tocante à gravidade de muitas violações. Mais de 200 chilenos sofreram ferimentos sérios nos olhos em confrontos nos quais a polícia usou balas de borracha.

Tanto a Human Rights Watch quanto a Anistia Internacional recomendou uma reformulação imediata dos protocolos policiais e medidas de responsabilização para tratar das alegações de abuso crescentes.

Autoridades policiais e militares disseram que quaisquer casos de suposto abuso estão sendo investigados por tribunais civis.

Ainda nesta terça-feira, bloqueios nas ruas da capital Santiago dificultaram o trânsito, e manifestantes montaram barricadas e as incendiaram em grandes ruas e rodovias ao redor da cidade.