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Vitória de Biden é cada vez mais irreversível, diz Mourão

Fala de Mourão é novo capítulo da falta de sintonia com o presidente Bolsonaro - Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
Fala de Mourão é novo capítulo da falta de sintonia com o presidente Bolsonaro Imagem: Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello

Lisandra Paraguassu

Em Brasília

13/11/2020 10h25

Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - Mesmo com o governo brasileiro tendo evitado até agora cumprimentar Joe Biden por sua eleição para presidente dos Estados Unidos, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta sexta-feira que vê a vitória do democrata nas eleições norte-americanas como cada vez mais irreversível.

"Como indivíduo eu julgo que a vitória de Joe Biden está cada vez mais irreversível", disse o vice-presidente em entrevista à Rádio Gaúcha.

Mourão disse ainda acreditar que em breve o presidente Jair Bolsonaro deve cumprimentar o presidente eleito dos EUA e que não espera tensões entre os dois países. Em entrevista a jornalistas na entrada da Vice-Presidência, admitiu a dificuldade de o atual presidente dos EUA, o republicano Donald Trump, virar o resultado.

"Não é questão de reconhecer. Hoje, agora, quando terminou essa situação lá do Arizona, e aí o Biden já foi para 306 delegados, acho que agora ficou complicado, a não ser que o presidente Trump ainda tenha alguma carta na manga que a gente desconhece", avaliou.

Bolsonaro é um declarado admirador de Trump e, na quinta-feira, ao comentar sobre a eleição presidencial norte-americana a apoiadores, indagou se ela havia acabado.

Apenas quatro países até agora não cumprimentaram Biden pela vitória. Além de Brasil, Rússia, México e Coreia do Norte não reconheceram o democrata. Nesta sexta, a China, que tem rivalizado com os EUA em várias áreas e que tem tido relacionamento de atrito com o governo Trump, parabenizou Biden.

Mourão disse não acreditar na possibilidade de o Brasil ficar ainda mais isolado no cenário internacional, após o anúncio chinês.

"Aguarda o momento aí que vai acontecer e não vai ter nenhuma hecatombe nuclear por causa disso. Fica tranquilo", disse a um dos jornalistas.

Mais cedo, o vice-presidente minimizou a polêmica fala do presidente nesta semana quando, ao citar as advertências de Biden em relação ao desmatamento da Amazônia, Bolsonaro afirmou que quando "a saliva (a diplomacia)" acaba, resta a pólvora.

"O presidente, a gente tem que prestar mais atenção nas ações que nas palavras", disse.

EXPROPRIAÇÃO DE TERRAS

Sobre outra controvérsia envolvendo o presidente nesta semana, Mourão admitiu que a proposta de expropriar terras em casos de desmatamento ilegal ou grilagem foi apresentada no Conselho Nacional da Amazônia, como revelou o jornal Estado de S. Paulo, mas ainda era apenas uma ideia.

Segundo Mourão, as ideias constantes do documento foram enviadas aos ministérios, serão analisadas e cada um deles deverá apresentar suas impressões. Só se houver um consenso sobre o tema isso será levado ao presidente.

Ao saber da proposta pelo jornal, Bolsonaro a taxou de "delírio de algum do governo" ou mentira da imprensa. Depois, a apoiadores, afirmou que se fosse de alguém do governo seria demitido, a menos que fosse "indemissível" --no caso, o vice-presidente.

Mourão afirmou que não conversou ainda com Bolsonaro sobre a proposta.