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Itamaraty responde China e diz que tom de embaixada em resposta a Eduardo Bolsonaro foi ofensivo e desrespeitoso

Embaixada da China repudia publicação de Eduardo Bolsonaro: "Vai arcar com as consequências negativas" - Alan Santos/Palácio do Planalto
Embaixada da China repudia publicação de Eduardo Bolsonaro: "Vai arcar com as consequências negativas" Imagem: Alan Santos/Palácio do Planalto

26/11/2020 18h37

BRASÍLIA (Reuters) - Em comunicação à embaixada da China em Brasília, o Itamaraty repreendeu os diplomatas do país pela resposta dada às declarações feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e, em tom pouco diplomático, afirmou que o texto da resposta postada pela embaixada em suas redes sociais é "ofensivo e desrespeitoso."

A chamada nota verbal, uma comunicação de caráter ostensivo entre as chancelarias e as embaixadas, foi publicada pela CNN e teve seu teor confirmado pela Reuters.

"O tratamento de temas de interesse comum por parte de agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil através das redes sociais não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que porventura não desejam promover as boas relações entre o Brasil e China", diz o texto.

O "tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso" da declaração dos chineses, postada no Twitter, "prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira."

Procurado pela Reuters, o Itamaraty não se manifestou.

Eduardo Bolsonaro publicou em sua conta no Twitter uma série de posts em que comemorava a suposta adesão do governo brasileiro ao programa Redes Limpas. No material, dizia que o país estava se afastando da tecnologia da China e que a iniciativa norte-americana criava uma rede de 5G segura, "sem espionagem" chinesa. Mais tarde o deputado apagou a postagem.

A reação da embaixada da China foi dura. Em uma carta assinada pelo porta-voz da representação e publicada também no Twitter na terça-feira, os chineses afirmam que a declaração de Eduardo, filho do presidente Jair Bolsonaro, é totalmente inaceitável e lembram que o deputado e outras autoridades brasileiras têm produzido declarações "infames" sobre a China.

"Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema-direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil", diz a carta chinesa.

Em sua resposta, o Itamaraty diz que tem se abstido de se manifestar em assuntos chineses que atraem atenção global e que espera que o governo da China faça o mesmo em relação ao Brasil.

"Especialmente, não cabe à embaixada da República Popular da China opinar sobre as aspirações e interesses da sociedade brasileira, assim como a embaixada do Brasil na República Popular da China se abstém de opinar sobre as aspirações e interesses da sociedade chinesa", diz a comunicação, emitida pela Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia.

De acordo com um diplomata ouvido pela Reuters em condição de anonimato, tanto a embaixada a China quanto o Itamaraty assumiram um tom extremamente agressivo e incomum na diplomacia, com uma repreensão acima do tom do lado brasileiro e ameaças de retaliação do lado chinês.

Mas, enquanto os chineses usaram as redes sociais e uma nota assinada por um porta-voz sem assinatura do diplomata —isso depois de ter procurado o Itamaraty diretamente com uma reclamação formal—, o governo brasileiro usou a nota verbal, uma comunicação oficial entre governos, para criticar outro país.