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Diretora da Precisa contraria irmãos Miranda e diz que invoice da Covaxin foi enviada em 22 de março

Emanuela Medrades, diretora executiva e responsável técnica da Precisa Medicamentos - Por Maria Carolina Marcello
Emanuela Medrades, diretora executiva e responsável técnica da Precisa Medicamentos Imagem: Por Maria Carolina Marcello

14/07/2021 15h41

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) -A diretora-​executiva da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, sustentou nesta quarta-feira à CPI que a primeira invoice tratando da vacina indiana Covaxin só foi enviado no dia 22 de março, data diferente da relatada pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e por seu irmão, o deputado Luís Miranda (DEM-DF), e desafiou que provem o contrário.

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Renan Calheiros (MDB-AL), no entanto, considerou que a divergência nas datas tornou-se um assunto secundário a partir do momento em que o presidente Jair Bolsonaro confirmou conversa com os irmãos Miranda, em que eles relataram pessoalmente supostas irregularidades no processo de importação das vacinas.

"A partir do momento... em que o presidente da República, no Rio Grande do Sul, disse, confirmou, repetiu que recebeu, sim, as denúncias dos irmãos Miranda, a data da invoice passa a ser uma coisa absolutamente secundária porque ele já confirmou o recebimento da denúncia", disse o relator.

Segundo Luis Ricardo Miranda e o consultor técnico do Ministério da Saúde William Amorim Santana, a invoice foi enviada no dia 18 de março. Essa data do envio do documento, uma espécie de fatura, também foi relatada pelos irmãos Miranda, que tiveram a conversa com o presidente em 20 de março.

Emanuela, no entanto, sustentou sua versão.

"Eu provei e provo, mais uma vez, que essa invoice só foi enviada no dia 22. E eu desafio o William Amorim e o Luis Ricardo a provarem também que eles receberam no dia 18, porque eles não vão conseguir. Então, eu estou disposta, inclusive, a fazer uma acareação junto com as informações que eles passaram e com os fatos, se é que eles os têm", garantiu a depoente nesta quarta-feira à CPI.

Emanuela corrigiu declarações dadas por ela mesma em uma audiência do Senado, no dia 23 de março. Senadores chegaram a exibir o vídeo na reunião desta quarta.

"Então, referente ao vídeo, mais uma vez, eu não fui detalhista. Se eu soubesse que eu ia estar passando por isto aqui agora, eu ia ter lido, eu ia ter falado dia por dia, e-mail por e-mail", afirmou.

Depois, explicou que na quinta-feira criou um link no Dropbox para encaminhar "documentos técnicos" ao Ministério da Saúde, através do Departamento de Importação.

"Mas ainda assim, eu já disse aqui, eu não fui detalhista nas questões das datas, eu não fui. E eu já provei que esse documento não estava com o ministério no dia 18, ele só apareceu no dia 22. E, mais uma vez, eu desafio o William Amorim e o Luis Ricardo a demonstrarem o contrário, porque eu provei e eu provo quantas vezes for necessário."

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), concordou, assim como outros integrantes da comissão, com a sugestão da depoente.

"A Comissão é inteligente. É muito inteligente. E aqui não tem... Aqui não tem bestinha. Deixa eu só dizer... Concordo. Ela está pedindo acareação, acho que nós devemos fazer acareação, até porque ela é que está sendo acusada e ela faz questão de fazer acareação", disse Aziz.

Posteriormente, ela foi questionada sobre o fato de o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, e o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco terem se referido às datas de envio da primeira invoice anteriores ao dia 22, mas disse que o ministro e o secretario se "equivocaram" e se "confundiram".

A diretora lançou mão ainda de perícia, que segundo ela já foi entregue à Polícia Federal.

Durante a oitiva desta quarta, Emanuela afirmou que em momento algum foi solicitado o pagamento antecipado pelas doses. Avaliou, ainda, que a Índia não tem conhecimento das particularidades do processo no país e seria "natural" que houvesse "erros materiais", posteriormente corrigidos.

Os irmãos Miranda relataram à CPI indícios de desvio de conduta, invoice irregular, pedido de pagamento antecipado que o contrato não previa, quantidades diferentes.

A Precisa, representante no Brasil do laboratório indiano Bharat Biotech, que fabrica a vacina contra Covid-19 Covaxin, é peça-chave nas investigações da CPI sobre suspeita de irregularidades nas tratativas para a aquisição desse imunizante pelo Ministério da Saúde.

(Edição de Maria Pia Palermo e Pedro Fonseca)

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.