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Diretora se nega a divulgar ganho da Precisa com venda da Covaxin

Hanrrikson de Andrade, Luciana Amaral e Thais Augusto

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

14/07/2021 11h27Atualizada em 14/07/2021 14h46

A diretora executiva da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, se negou hoje a informar à CPI da Covid qual seria a margem de lucro destinada à empresa brasileira na intermediação da aquisição de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin.

A Precisa Medicamentos celebrou contrato com o Ministério da Saúde, em 25 de fevereiro de 2021, na condição de representante do laboratório indiano Bharat Biotech. O custo final da operação é de R$ 1,6 bilhão. Em transações desse tipo, a revendedora tem direito a um bônus.

No depoimento ao colegiado, Emanuela alegou que o contrato possui cláusulas de confidencialidade e se negou a prestar esclarecimentos quanto a esse assunto.

Na questão da participação da Precisa, ela tem cláusula de confidencialidade, e eu não tenho autorização para compartilhar aqui
Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos

A depoente também contestou relato do Ministério da Saúde de que a Covaxin teria sido oferecida por US$ 10 a dose em uma reunião realizada em novembro de 2020, meses antes da assinatura do contrato que fixou o valor do imunizante em US$ 15 por dose.

De acordo com a funcionária, existia à época apenas uma "expectativa de que o produto pudesse custar US$ 10 ou menos", mas nunca houve uma oferta sobre a mesa com essa precificação. Ela classificou a narrativa do ministério como "equivocada".

O relato do ministério consta de uma ata de memória da reunião realizada em 20 de novembro do ano passado, da qual participaram os dirigentes da Precisa, do governo federal e do fabricante da vacina, o laboratório Bharat Biotech.

Na ocasião, as tratativas estavam em fase inicial. A primeira oferta formal, no valor de US$ 15 por dose, só foi encaminhada em 15 de janeiro. O contrato foi assinado no mês seguinte, em 25 de fevereiro.

"Essa memória de reunião foi unilateral, confeccionada pelo Ministério da Saúde. Não houve oferta de US$ 10 dólares por dose, tenho aqui cronograma das últimas vezes que pedi que esse produto fosse mais barato."

Emanuela afirmou à CPI que, no período entre novembro de 2020 e janeiro de 2021, ela tomou a iniciativa de buscar junto ao laboratório Bharat Biotech uma redução no preço-base da Covaxin. A depoente revelou que, em dezembro, a fabricante chegou a pedir um valor ainda mais alto, US$ 18 por dose, o que teria sido imediatamente rechaçado por ela.

"A política de precificação da Covaxin é 100% da Bharat. A Precisa não atua na precificação. O que nós fizemos foi tentar o tempo todo reduzir esse custo."

Ao colegiado, a diretora da empresa brasileira disse que entregaria cópias de e-mails enviados por ela à Bharat Biotech com a referida tentativa de barganha no custo da Covaxin. Ao fim do processo de negociação, segundo ela, o valor consentido pelo fabricante foi US$ 15 a dose.

"Por diversas vezes [o Ministério da Saúde tentou reduzir o custo da vacina]. (...) Tenho inúmeras evidências, eu solicitando e colocando o desejo que a vacina custasse menos de US$ 10 para o Brasil."

A Precisa recebeu oferta de US$ 18 e não repassamos ao Ministério da Saúde porque esse valor estava muito longe do que eu gostaria de ofertar ao Brasil. Se na memória de reunião constava US$ 10 dólares, é uma memória unilateral. Podia ser expectativa"
Emanuela Medrades na CPI da Covid

O preço que foi cobrado pela Bharat Biotech (US$ 15 por dose) é considerado elevado em comparação com as outras vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde —a Covaxin foi a mais cara. Além do patamar mais elevado de custo, o imunizante não possuía sequer estudos clínicos de fase 3 (etapa decisiva do processo regulatório).

Até hoje, o produto não foi autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso emergencial. A Precisa fez a solicitação ao órgão no fim de junho, porém o processo de análise foi suspendo devido a ausência de documentação.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.