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Com CPMI inevitável, governo prepara estratégia para controlar comissão

Governo Lula tentou evitar a instalação da comissão, mas vazamento de imagens do 8 de janeiro anulou esforços - 31.mar.2023 - Gabriela Biló/Folhapress
Governo Lula tentou evitar a instalação da comissão, mas vazamento de imagens do 8 de janeiro anulou esforços Imagem: 31.mar.2023 - Gabriela Biló/Folhapress

Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

Em Brasília

20/04/2023 19h23Atualizada em 20/04/2023 20h32

Depois de aceitar como inevitável a instalação da CPMI sobre os ataques de 8 de janeiro, o governo começa a fazer contas e se prepara para ocupar os espaços da comissão com parlamentares aliados e controlar a condução das investigações.

Na manhã desta quinta-feira, líderes e ministros do governo já começaram a conversar sobre as indicações para compor a comissão e como isolar os aliados radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro —responsáveis pela ideia da CPMI— dentro do colegiado.

Uma tabela a que a Reuters teve acesso mostra que o governo tem boas chances de emplacar um bom número de aliados dentro da CPMI. Pelas regras do Congresso, cada Casa, indicaria 16 parlamentares.

No Senado, os dois maiores blocos, ambos da base do governo, teriam 11 nomes, seis do bloco formado por MDB, União Brasil, Podemos, PDT, PSDB e Rede, e cinco do bloco PSD, PT e PSB. Das restantes vagas, o PL de Bolsonaro ficaria com apenas três, enquanto as duas últimas seriam para o bloco PP/Republicanos.

Na Câmara a conta é semelhante. Das 16 vagas, cinco ficam com o bloco formado por PP, União Brasil, federação PSDB-Cidadania, Solidariedade, Patriota, Avante, PSB e PDT. Formado pelo presidente da Casa, Arthur Lira, o blocão é hoje liderado pelo deputado Felipe Carreras (PSB-PE), aliado do governo.

Outras quatro são do bloco que reúne MDB, PSD, Podemos e Republicanos —partidos que, em sua maioria, têm trabalhado com o governo. A federação do PT fica com duas vagas, a federação do PSOL com a Rede terá uma, assim como o Novo. O PL, novamente, tem direito a indicar apenas três nomes.

"Se for para instalar, acho que é melhor mesmo instalar agora. Temos condições de ter uma maioria confortável, já tem muitas apurações, mais de 100 réus...", disse à Reuters um dos auxiliares mais próximos do presidente.

As conversas já começaram com os líderes para que os indicados sejam parlamentares aliados ou ao menos mais simpáticos ao governo.

O Planalto reconhece que não há como evitar que membros mais raivosos da oposição terminem por ganhar palanque, mas a avaliação é que com as investigações já em curso e o governo com maioria na CPMI, o resultado da comissão poderá enterrar de vez a versão bolsonarista de que o Planalto teria facilitado de alguma forma os ataques do 8 de janeiro.

"Palanque eles sempre conseguem, isso é inevitável. Seja na CPMI ou fora dela, mas serão minoria, não há dúvida", disse a fonte.

O governo tentou evitar a instalação o quanto pode. Até quarta-feira, acreditava-se que seria possível conseguir a retirada de assinaturas com o incremento de nomeações dos cargos de segundo escalão e com a liberação de emendas deste ano, que o próprio Planalto admite que estava mais lenta do que se gostaria.

No entanto, depois da divulgação de imagens na quarta-feira mostrando membros do Gabinete de Segurança Institucional dando água e escoltando invasores no Planalto —e que levaram à demissão do então ministro, o general da reserva Gonçalves Dias—, o Planalto passou a admitir que a instalação seria inevitável e começou a preparar o ataque.

Com a estratégia, o governo visa reduzir danos pela dispersão da energia que gostaria de ver focada na organização da base de apoio para a aprovação da agenda econômica prioritária.

A conta do governo e dos parlamentares é que a presidência da CPMI deverá ficar com a Câmara e a relatoria, com o Senado. De acordo com uma fonte da Casa, será um senador vindo do bloco encabeçado pelo MDB e pelo União Brasil, mas ainda não há um nome.

A avaliação desta fonte é a mesma do Planalto: o Executivo terá maioria para controlar o andamento das investigações e o relator certamente será um governista.

"O tiro da oposição poderá sair pela culatra", disse à Reuters, destacando que poderá se requisitar provas de investigações do assunto em curso no STF para subsidiar as apurações do Congresso, o que pode ser ainda pior para parlamentares e políticos envolvidos no incentivo aos ataques do 8 de janeiro.

A oposição deverá ser minoritária e o receio é ela, sem poder avançar nas apurações, partir para fazer barulho. Não se pode cair em provocações, ressaltou essa fonte.