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Desistência de Flávio da candidatura à prefeitura do Rio mostra temor de Bolsonaros com investigações, dizem fontes

A leitura, segundo duas fontes, é que a família Bolsonaro teme que a exposição de Flávio na disputa pela prefeitura do Rio aumente a pressão sobre o clã - 30.mar.2023 - Reprodução/Twitter
A leitura, segundo duas fontes, é que a família Bolsonaro teme que a exposição de Flávio na disputa pela prefeitura do Rio aumente a pressão sobre o clã Imagem: 30.mar.2023 - Reprodução/Twitter

Rodrigo Viga Gaier

23/05/2023 13h18

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) abortou o plano de ser candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 2024 após ser convencido pelo pai, o ex presidente Jair Bolsonaro, de que seria mais útil na articulação política para eleger o maior número de prefeitos no ano que vem pelo partido.

Nos bastidores, no entanto, a leitura, segundo duas fontes próximas às discussões, é que a família Bolsonaro teme que a exposição de Flávio na busca do comando da segunda maior cidade do Brasil aumente a pressão sobre o clã, que enfrenta investigações criminais em várias instâncias, inclusive no Estado do Rio.

"Eles sabiam que a exposição do Flávio traria de novo à tona o caso da rachadinha, ligação com Queiroz e afins", disse uma das fontes próximas à família.

A investigação que apurava se Flávio Bolsonaro, quando deputado estadual, havia usado o aliado Fabrício Queiroz para coletar ilegalmente parte do salário de servidores de seu gabinete foi arquivada pelo Tribunal de Justiça do Rio em maio de 2022. Há no entanto uma outra investigação em curso, pelo mesmo motivo, mas que mira o vereador Carlos Bolsonaro, irmão de Flávio.

"Então, a lógica seria: se pegarem o Carlos, matam de cara a candidatura do Flávio e ainda respingam na (candidatura) de Bolsoanro 2026", disse uma segunda fonte.

"Em recente conversa , Bolsonaro disse que não queria que o filho (Flávio) sofresse o que ele está sofrendo agora. Perseguição, dezenas de processos na Justiça e ataques. Ele disse: 'Não quero isso pro meu filho'", adicionou a primeira fonte.

Outro obstáculo para a candidatura de Flávio Bolsonaro ao governo municipal carioca era a possibilidade de que seu suplente, o empresário Paulo Marinho, assumisse sua cadeira de senador.

Ex-aliado da família Bolsonaro, Marinho virou um importante desafeto do clã. "Esse era um problema. Flávio chegou a conversar com o Marinho para tentar uma trégua", afirmou uma das fontes.

Balde de água fria

Flávio Bolsonaro aparecia nas primeiras pesquisa de opinião em posição forte na disputa contra o atual prefeito Eduardo Paes (PSD), que tentará a reeleição e seu quarto mandato à frente da cidade do Rio. Os dois polarizavam a eleição carioca até aqui e as indicações iniciais apontavam para um segundo turno.

Se tivesse confirmado a candidatura, seria a segunda vez que Flávio disputaria a prefeitura do Rio e, segundo pessoas próximas, o senador esperava um engajamento forte do pai na disputa para tentar "derrotar" Paes.

Em meio a expectativa sobre a candidatura de Flávio Bolsonaro, alguns integrantes do PL, chegaram a criar o movimento Libera, uma alusão à liberação da candidatura do senador a prefeitura carioca.

O balde de água fria foi dado pelo próprio Flávio Bolsonaro na sexta-feira em postagem em uma rede social. "Agradeço ao meu líder Jair Bolsonaro pelas palavras e pelo reconhecimento. Seguirei ajudando meu amado Rio de Janeiro e trabalhando por todos os cariocas e fluminenses aqui do Senado Federal", publicou o senador.

Dentro do PL, todos os potenciais candidatos estavam em compasso de espera, aguardando a orientação de Jair Bolsonaro. O senador Carlos Portinho, o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Braga Netto, vice na chapa de Bolsonaro na eleição presidencial do ano passado, e o deputado federal e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello estão entre os nomes cotados internamente.

No entanto, a escolha do nome pode extrapolar os muros do PL. As fontes acreditam que o secretário de Saúde do Estado do Rio, Dr Luizinho, filiado ao PP, possa ser o nome da direita na corrida municipal carioca.

"Haverá uma super exposição da imagem dele agora no segundo semestre para que ele possa se apresentar como a opção do campo da direita no Rio", disse uma terceira fonte.

O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), é correligionário do ex-presidente e do senador e tem relação próxima com seu secretário de Saúde. "Os dois tem um boa relação e há chances de o Luizinho ser esse nome para disputar com o Paes", disse uma outra fonte.

Na eleição presidencial do ano passado, Bolsonaro teve mais votos que o atual presidente Luiz Inácio tanto no Estado do Rio quanto na capital fluminense e parlamentares de direita também tiveram votação expressiva para a Assembleia Legislativa e nas vagas destinadas ao Estado na Câmara dos Deputados.

O bom trânsito de Flávio com nomes da direita, na avaliação de aliados do bolsonarismo, será essencial para escolher os nomes "certos" para concorrer às eleições municipais de 2024 e, de quebra, catapultar a candidatura de Jair Bolsonaro em 2026.