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Argentina fecha as suas fronteiras para os próprios argentinos retidos no exterior

Alberto Fernández, presidente da Argentina - Gonzalo Fuentes/Reuters
Alberto Fernández, presidente da Argentina Imagem: Gonzalo Fuentes/Reuters

26/03/2020 06h52

Devido ao risco de que possam trazer o coronavírus e contagiar a população no seu sétimo dia de quarentena total, o presidente Alberto Fernández decide a suspensão dos voos de repatriação. Milhares de argentinos estão retidos no Brasil sem poderem voltar à Argentina, a não ser que tenham mais de 65 anos ou representem um caso excepcional.

O governo argentino decidiu suspender a repatriação de milhares de argentinos retidos no exterior, depois que muitos chegassem ao país com sintomas do novo coronavírus e após vários não cumprirem a quarentena obrigatória. Os últimos voos com argentinos chegarão até amanhã.

"Por enquanto, decidimos não permitir que entre mais gente. Os regressos ficam suspensos. Dei as instruções ao chanceler para que ajude com recursos os que estão no exterior até que possamos ordenar esse assunto. A não ser algum caso excepcional que justifique, terão de ficar esperando a hora de regressar", anunciou o presidente Alberto Fernández, abrindo uma exceção aos maiores de 65 anos por estarem entre os que mais riscos correm. "O resto que espere um pouco", pediu.

Além dos voos de repatriação, as entradas de argentinos pelas fronteiras terrestres também estão suspensas. A ponte internacional Tancredo Neves, que une a brasileira Foz do Iguaçu com a argentina Puerto Iguazú, foi fechada. Muitos argentinos pegaram voos domésticos no Brasil até Foz do Iguaçu, como uma forma alternativa de voltar para casa.

Do outro lado das fronteiras argentinas restam mais de 10 mil argentinos de um total de 45 mil que estavam no exterior quando o país fechou as fronteiras em 17 de março e que pediram para voltar. A cifra, admite o chanceler Felipe Solá, poderia ser maior. "Vamos socorrê-los quando o risco for menor", avisou Fernández, desencadeando diversos pedidos desesperados do exterior para que a decisão seja revertida.

Retidos no Brasil

Pelo menos 300 argentinos retidos no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, imploram para voltar a casa No Rio de Janeiro, há cerca de dois mil argentinos. "Pagamos muito dinheiro para conseguir antecipar os nossos voos. Há famílias com menores de idade, mulheres grávidas a poucas semanas de dar à luz e nenhum de nós tem possibilidade de ir a um hotel num país complicado como Brasil que ainda não decretou a quarentena obrigatória como a Argentina. Deixem-nos voltar", implora uma passageira no vídeo destinado ao presidente.

Muitos não estavam de férias no Brasil, mas foram pegos no meio do caminho de volta, usando os aeroportos brasileiros para conexões já que o Brasil é um dos poucos países no mundo que ainda permitem voos internacionais.

A Argentina suspendeu voos vindos de toda a Europa, dos Estados Unidos, da Coreia do Sul, do Japão, da China e do Irã desde o dia 17 quando também fechou as suas fronteiras a todos que não fossem argentinos ou estrangeiros residentes no país. Os argentinos passaram usar o Brasil como destino intermediário.

Presidente revoltado com os idiotas

A decisão do presidente argentino veio depois das dificuldades operacionais para conter os repatriados quando chegavam ao país. Muitos aterrissavam infectados ou não cumpriam com a quarentena obrigatória de 14 dias.

Além disso, há sete dias, o país entrou numa quarentena total para conter a circulação do vírus, mas a chegada diária de milhares de argentinos significava uma nova injeção de vírus, prejudicando o objetivo do isolamento social obrigatório.

Os que chegavam sem sintomas requeriam escolta policial até as suas residências. Os que vinham com sintomas precisavam ser hospitalizados, consumindo recursos. Os que residem em outras províncias precisavam ser instalados em hotéis até cumprirem os 14 dias de quarentena.

A operação de repatriação superou a capacidade de resposta sanitária. Os recém-chegados ameaçavam ser um foco de contágio às próprias forças de segurança.

Outro motivo que enfureceu o presidente Alberto Fernández foi constatar que mais de 20 mil argentinos viajaram depois da declaração internacional de pandemia por parte da Organização Mundial da Saúde e depois que, na noite do dia 12, o presidente anunciasse a suspensão de voos vindos das zonas de risco.

Mais de 20 mil pessoas foram embora da Argentina depois que avisei sobre a pandemia e que interrompia tudo. E muitos pediram depois que os trouxéssemos urgentemente", criticou Alberto Fernández quem tem classificado os que furam o isolamento como "tontos" e "idiotas".