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Ameaça de epidemia de covid-19 no Haiti é catástrofe humanitária anunciada

AFP
Imagem: AFP

03/05/2020 06h14

O aparecimento do coronavírus no Haiti coloca em pânico as autoridades do país e organizações humanitárias internacionais que atuam na ilha. O sistema de saúde extremamente fragilizado pressupõe um número elevado de mortes se a epidemia avançar, mas as consequências econômicas do isolamento para contê-la podem ser ainda mais fatais, num país onde a maioria da população é pobre ou miserável e sobrevive graças à economia informal.

O aparecimento do coronavírus no Haiti coloca em pânico as autoridades do país e organizações humanitárias internacionais que atuam na ilha. O sistema de saúde extremamente fragilizado pressupõe um número elevado de mortes se a epidemia avançar, mas as consequências econômicas do isolamento para contê-la podem ser ainda mais fatais, num país onde a maioria da população é pobre ou miserável e sobrevive graças à economia informal.

Até este sábado (2), a covid-19 tinha matado oito pessoas no Haiti, conforme um balanço oficial, 43 dias depois do registro do primeiro caso. Mas um eventual confinamento da população, solução pregada em quase todos os países atingidos para conter a expansão do vírus, parece incompatível com a situação da população local.

O governo da capital haitiana tem dificuldades em impor o limite de apenas três dias semanais de atividade, na tentativa de frear as contaminações. Comerciantes promoveram um protesto em Porto Príncipe para se opor à medida. O dilema que fica é: morrer de coronavírus hoje ou de fome amanhã?

O uso de máscaras será obrigatório nas ruas a partir de 11 maio, data a partir da qual o país espera dispor da proteção em larga escala. Diante das incertezas sobre o futuro, os haitianos são ainda mais cautelosos nas compras e se contentam com o essencial. A alimentação dos mais pobres se compõe em dois terços de cereais - e o preço do arroz mais que dobrou nos supermercados da cidade, em relação a 2019.

Recessão e ameaça de fome mesmo sem a pandemia

A coordenação nacional de segurança alimentar nota que essa inflação se acelera desde março. O aumento dos preços inevitavelmente vai ampliar a recessão no país, iniciada no fim do ano passado.

"Com a crise que se anuncia, esperamos um recuo de quase 4% do PIB, resultado do desmoronamento do setor agrícola, que deve ter uma queda considerável da demanda", indicou o primeiro-ministro Joseph Jouthe durante uma cúpula anual de finanças, realizada pela internet neste ano.

A agricultura representa apenas 21% do PIB, no entanto concentra a maioria dos empregos no Haiti, lembra o economista Etzer Emile. Os agricultores pobres trabalham em produções minúsculas e já sofrem com a queda da renda, em pleno período de entre-safra. A situação torna ainda mais difícil a preparação da próxima safra - que, para completar, está ameaçada pela seca em algumas regiões.

Bem antes que a pandemia de coronavírus paralise o mundo, a ONU já havia advertido que 40% dos haitianos precisariam de ajuda humanitária de emergência em 2020. As projeções, publicadas em outubro de 2019, diziam que, a partir de março deste ano, cerca de 3 milhões de pessoas estariam em situação de insegurança alimentar grave, último estágio antes da fome, conforme a classificação adotada pelas Nações Unidas.

Apoio financeiro externo deve despencar

A expansão da pobreza extrema foi por muito tempo evitada graças ao apoio financeiro de expatriados haitianos, que doam anualmente mais de US$ 3 bilhões ao país, valor que representa cerca de 30% do PIB do Haiti. A maioria desses haitianos que moram no exterior vive nos Estados Unidos, onde enfrentaram, na última década, o desemprego elevado.

Neste contexto, agravado pela pandemia de Covid-19, a previsão do Ministério da Economia e das Finanças é de que a ajuda financeira vinda dos expatriados despenque cerca de 25% nos próximos meses. "Tem um ditado que diz que quando a economia americana tem uma gripe, a haitiana sofre uma pneumonia. Os milhões de empregos perdidos nos Estados Unidos vão certamente provocar uma agravação da pobreza extrema aqui", adverte o economista Kesner Pharel.

Com informações da AFP