Covid-19: Cidades que abreviaram quarentena viveram "segunda onda"; e SP?
Resumo da notícia
- Ao menos três províncias chinesas chegaram a derrubar restrições, mas tiveram que retomá-las após segunda onda
- Ilha japonesa de Hokkaido ficou três semanas em quarentena e, ao suspendê-la, viveu aumento de casos
- Segundo especialista, isolamento quebra a cadeia de transmissão na comunidade, mas não dentro das residências
A quarentena virou estratégia global no combate ao coronavírus, mas só é eficaz se durar o tempo necessário. Relaxar o isolamento social antes da hora, seja por decisão governamental ou iniciativa individual das pessoas, pode levar à chamada "segunda onda" de covid-19 e superlotar o sistema de saúde. Aconteceu em cidades da China e em uma ilha do Japão. Agora, é o estado de São Paulo que corre este risco.
Ao menos três províncias chinesas chegaram a derrubar restrições de deslocamento durante o mês de março, mas tiveram que retomá-las pouco depois por causa de um novo aumento na contaminação.
Já a ilha japonesa de Hokkaido ficou três semanas em quarentena e, um mês após voltar ao normal, foi atingida por uma segunda onda de covid-19 e precisou retomar ao isolamento.
São Paulo pode vir a ser um caso semelhante; não por decisão oficial, mas por iniciativa pessoal dos paulistas. O estado é o maior foco de transmissão de coronavírus no País e ainda nem cogita a flexibilização do isolamento, mas a população tem saído cada vez mais de casa após cinco semanas sob decreto. O relaxamento da quarentena paulista pode levar à segunda onda assim como foi nas províncias chinesas ou em Hokkaido.
"O isolamento quebra a cadeia de transmissão na comunidade, no espaço comum, mas não dentro das residências. Se a quarentena termina de uma vez, o mecanismo da segunda onda é igual ao da primeira: a curva volta a subir porque a população continua suscetível", explica Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
A quarentena dá ao poder público tempo para reagir à pandemia, mas o coronavírus continua circulando em pacientes assintomáticos ou viajantes, por exemplo.
Quando o isolamento é abreviado de forma abrupta, essas pessoas voltam a ter contato com quem ainda não tinha sido exposto ao vírus, e a transmissão recomeça como se nunca tivesse sido interrompida. Foi este o caso de Hokkaido, onde pouquíssima gente ficou imune ao coronavírus, e por isso a contaminação voltou a crescer.
Flexibilização demora e deve ser aos poucos
A maioria dos países europeus que já passaram pelo pico de transmissão de coronavírus agora começa a flexibilizar a quarentena — mas sem liberação total, de uma hora para outra.
A ideia é que, relaxando o isolamento aos poucos, o serviço de saúde consiga absorver os novos infectados gradualmente e, assim, menos pessoas morram. É esta a estratégia adotada por Itália, Espanha e França, por exemplo, três dos países mais afetados pela covid-19.
Na visão de Jamal Suleiman, no entanto, o Brasil ainda não chegou a este momento.
"A flexibilização pode ser uma estratégia em determinados setores [da sociedade], mas desde que se saiba a infecção nesta população, a taxa de transmissão e uma rede de saúde capaz de suportar esta taxa. Sem fazer esta conta, não tem como resolver o problema", explica o infectologista.
No caso da ilha japonesa de Hokkaido, as indústrias da agricultura e do turismo pressionaram pelo fim da quarentena quando os casos confirmados diminuíram.
O governo acatou, encerrou o estado de emergência, e a população voltou às ruas justamente em um final de semana prolongado de março. Depois de três semanas, o contágio voltou a bater recordes e, por fim, a quarentena foi retomada.
"Agora me arrependo. Nós não deveríamos ter encerrado o estado de emergência", disse à revista Time o presidente da Associação Médica de Hokkaido, Kiyoshi Nagase.
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