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Com várias regiões sem casos, Austrália conseguiu conter pandemia; saiba como

Sydney, na Austrália no início da flexibilização da quarentena - James D. Morgan/Getty Images
Sydney, na Austrália no início da flexibilização da quarentena Imagem: James D. Morgan/Getty Images

22/06/2020 10h13Atualizada em 22/06/2020 11h56

A Austrália conseguiu conter a pandemia do novo coronavírus em seus estados. Hoje o país tem várias regiões sem casos confirmados e é considerado por autoridades de saúde como um dos exemplos de enfrentamento à pandemia.

O estado de Victoria, no sul da Austrália, voltou a impor restrições após o número de casos permanecer nos dois dígitos, por seis dias consecutivos. Mas mesmo com os números de Victoria, o cenário nacional não mudou, e a Austrália continua sendo um dos melhores exemplos de contenção do coronavírus.

Do primeiro caso registrado no dia 25 de janeiro (um homem vindo de Wuhan), ao pico de 460 novos casos registrados em um único dia (28 de março), há quase três meses, a média nacional é de 20 novos casos por dia em um país de 25 milhões de habitantes.

O país conta atualmente com um total de 7.474 infectados e 102 mortos, segundo a Universidade Johns Hopkins. Dos oito estados australianos, seis estão sem registrar um novo caso do novo coronavírus há três semanas.

Os estados mais populosos do país, Victoria (capital Melbourne) e New South Wales (capital Sydney), são os responsáveis por todos os novos casos de covid-19 na Austrália.

O estado de Victoria registrou hoje 13 novos contaminados, New South Wales, 5, e os demais estados australianos (South Australia, Western Australia, Território do Norte, Território da Capital, Queensland e Tasmânia), zero.

As razões por trás da estratégia australiana são complexas e o sucesso ainda pode ser temporário, mas alguns fatores foram e continuam sendo importantes na luta contra o vírus.

A coordenação da resposta política entre governos estaduais e federal, o rápido fechamento das fronteiras, a imposição da quarentena, distanciamento social, isolamento e rastreamento do vírus foram, todos, fatores fundamentais para o controle do vírus.

Diferenças culturais

Mas se essas regras e medidas são semelhantes aos protocolos mundiais de contenção ao vírus, o que difere na Austrália? A diferença talvez seja cultural. Apesar da imagem de um povo jovem, mais relaxado, o australiano se mostrou, em tempos de coronavírus, um povo acima de tudo, obediente.

É fato que nenhuma das medidas teria funcionado sem o comprometimento da população. O governo agiu de maneira relativamente rápida.

No dia 20 de março, o primeiro-ministro Scott Morrison declarou o fechamento das fronteiras e institui a quarentena obrigatória de duas semanas para todas as chegadas internacionais. Em seguida veio a ordem para as pessoas ficarem em casa e só saírem para irem ao médico, farmácia, supermercado e ao trabalho (caso não pudessem trabalhar de casa).

Os australianos adotaram essas medidas de isolamento e distanciamento social quase que imediatamente. O australiano "sumiu" das praias, das ruas, do transporte público, academias de ginástica, escolas, igrejas e locais de culto, bares e restaurantes. Isto é, fez o que lhe foi pedido - ficou em casa.

Lembrando que, mesmo no auge da crise, os parques públicos foram os únicos que permaneceram abertos para as pessoas se exercitarem. O australiano teve esse 'respiro' de poder ir ao parque, mas ninguém podia sentar nos bancos, playgrounds infantis foram fechados e os equipamentos de exercício ao ar livre bloqueados para uso.

Talvez marcados por imagens do sistema de saúde da Itália, à beira do colapso, e o número de contágios na Espanha e França, muitos australianos começaram a reduzir suas atividades antes mesmo que as restrições fossem impostas.

Apesar de as leis restritivas na Austrália terem sido menos rigorosas do que em alguns outros países, como a França e a vizinha Nova Zelândia, a conformidade dos australianos resultou no baixo número de transmissões comunitárias.

Governo reagiu mais rápido do que na crise dos incêndios

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, decepcionou muitos australianos ao lidar com a terrível crise dos incêndios florestais no início do ano. A resposta foi lenta e confusa. E ele jamais cedeu aos especialistas em mudança climática.

Desta vez, porém, o premiê mudou a linha de ação completamente. O governo colocou especialistas médicos no centro da resposta à crise da covid-19. Um gabinete nacional, presidido por Morrison, mas incluindo premiês estaduais dos partidos Trabalhista e Liberal, foi formado.

Até o movimento sindical recebeu um papel inesperado na criação de políticas para a contenção do coronavírus. O ministro das Relações Industriais, por exemplo, se declarou o "melhor amigo" de líderes sindicais.

Morrison também fechou boa parte da economia e aumentou benefícios da assistência social, como seguro desemprego e o famoso JobKeeper, que paga aos empresários para que mantenham seus funcionários empregados durante a crise. Ele também anunciou que o país entrou em recessão pela primeira vez em 29 anos.

Segundo o premiê, os gastos relacionados ao coronavírus foram até agora de cerca de 214 bilhões de dólares australianos (R$ 768 bilhões).

A crise não abalou a confiança do australiano no governo, que continua mais forte do que nunca.

Fronteiras não devem abrir

De acordo com o governo, não há previsão para a reabertura das fronteiras esse ano. Uma situação que prejudica milhares de pessoas, entra elas, os brasileiros que estudam na Austrália. Estudantes internacionais do mundo inteiro que têm visto temporário ainda não conseguiram retornar ao país e estão pedindo desesperadamente ajuda ao governo.

Muitos estudantes brasileiros resolveram ficar na Austrália, mas com o fechamento da economia estão recorrendo a doação de comida para conseguirem economizar algum dinheiro e pagar o aluguel e a mensalidade da escola, que atualmente é online.

O governo fala agora em erradicar a doença na Austrália, ao invés de apenas retardar sua propagação. O sucesso semelhante ou ainda maior do que na Nova Zelândia gerou um plano de criar um corredor entre os dois países, ou uma "bolha" na qual tanto a Austrália quanto a Nova Zelândia reabririam suas fronteiras uma para a outra, mas ficariam fechadas para o resto do mundo.