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Cobrança de Merkel faz caso de opositor russo virar rusga diplomática entre Moscou e Berlim

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu esclarecimentos à Rússia - Florian Gaertner/Photothek via Getty Images
A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu esclarecimentos à Rússia Imagem: Florian Gaertner/Photothek via Getty Images

Da RFI*

25/08/2020 08h03

A Alemanha concluiu ontem que o líder da oposição russa Alexei Navalny foi envenenado, apesar da negação das autoridades russas. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, exortou Moscou a esclarecer o caso, numa declaração que aumenta o desconforto diplomático entre os dois países.

A própria Merkel, por comunicado, afirmou que os resultados dos testes realizados por especialistas e anunciados mais cedo "apontam para um envenenamento". "As autoridades na Rússia são chamadas urgentemente para resolver este caso até o mínimo detalhe e com toda a transparência", disse a chanceler, em comunicado com seu ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas.

Ambos pediram que os responsáveis "sejam levados à justiça" para responder por seus atos. A tomada de posição alemã acontece pouco depois do Hospital la Charité, de Berlim, onde Navalny foi admitido no sábado (22), declarar que havia encontrado "sinais de envenenamento" no organismo do opositor do Kremlin.

As relações entre os dois países eram consideradas cordiais, mas a postura alemã vis à vis de Moscou mudou. A imprensa alemã, indica o correspondente da RFI em Berlim, Pascal Thibaut, notou a diferença. "As relações relativamente boas se explicavam, até agora, pela contenção muitas vezes não justificada de Berlim, que mudou de tom", escreveu o jornal conservador Frankfurter Allgemeine.

Apoio logístico marca apoio a opositor

A própria transferência de Navalny para a Alemanha assinalou essa diferença. Oficialmente, foi uma iniciativa privada, mas, na prática, contou com o apoio concreto do governo alemão. O avião com o opositor aterrissou em uma área reservada ao governo na capital alemã, a ambulância que transportava Navalny foi escoltada até o hospital e, no local, a segurança do paciente foi garantida por agentes alemães que, normalmente, cuidam apenas de autoridades do país e estrangeiras.

A pressão sobre Moscou também cresce na União Europeia. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu a Moscou a realização de uma "investigação independente e transparente". "A UE condena com firmeza o que parece ser um ataque à vida de Navalny, declarou. "O povo russo e a comunidade internacional pedem que se esclareçam os fatos. Os responsáveis precisam prestar contas", completou.

Substância semelhante à que envenenou ex-agente Skripal

O Hospital Charité afirmou que "os resultados clínicos indicam intoxicação por uma substância do grupo de inibidores da colinesterase", como a que envenenou o ex-agente duplo russo Serguei Skripal e sua filha, Yulia, no Reino Unido, em 2018. Esta enzima de concepção soviética pode ser usada, em doses baixas, para combater o mal de Alzheimer — mas, em altas doses, pode ser muito perigosa e se tornar um potente agente neurotóxico.

Nesta segunda-feira, os médicos russos que trataram Navalny durante sua hospitalização na Sibéria, antes de ser transferido a Berlim, informaram não ter encontrado inibidores de colinesterase no organismo do opositor. "Durante sua internação no hospital, Alexei Navalny foi submetido a testes, inclusive para inibidores de colinesterase. Os resultados foram negativos", declarou à imprensa russa Alexandre Savayev, chefe do setor de toxicologia do hospital de Omsk.

De acordo com os médicos alemães, Navalny poderá sofrer sequelas no sistema nervoso a longo prazo. O advogado de 44 anos tornou-se o principal opositor do Kremlin, e suas publicações sobre a corrupção das elites russas são visualizadas por milhões de pessoas nas redes sociais.

O opositor "encontra-se em uma unidade de cuidados intensivos e ainda está em coma induzido", ressaltou o hospital alemão. "Seu estado de saúde é grave, mas atualmente não há risco de morte", aponta o estabelecimento. Os médicos alemães examinaram o paciente "minuciosamente". Ele entrou em coma após passar mal na última quinta-feira, a bordo de um avião.

*Com informações da AFP