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O que é QAnon, movimento a favor de Trump que é visto pelo FBI como ameaça

Conspiracionista, QAnon vê Donald Trump como herói de uma batalha contra "grupos satânicos" - Stephen Maturen/Getty Images
Conspiracionista, QAnon vê Donald Trump como herói de uma batalha contra "grupos satânicos" Imagem: Stephen Maturen/Getty Images

26/08/2020 17h27Atualizada em 26/08/2020 19h27

QAnon é um movimento conspiracionista norte-americano de extrema direita que apoia sem restrições o presidente Donald Trump, candidato à reeleição nos Estados Unidos e, segundo eles, herói de uma batalha contra grupos satânicos. O grupo, no entanto, é considerado pelo FBI como uma ameaça potencial de terrorismo interno.

Neste período de campanha eleitoral para a presidência, encontramos ali os mais fervorosos partidários de Trump. QAnon começou nas redes anônimas da internet mas agora é um ator político que pode ter importância para as eleições de novembro.

"Não sei muito sobre esse movimento, além do fato de que eles me amam", explicou o presidente dos Estados Unidos em 19 de agosto durante uma coletiva na Casa Branca, quando foi questionado sobre o Movimento QAnon.

"Eles afirmam que você está salvando o mundo de uma rede de pessoas satânicas e pedófilas", disse um repórter. "Não ouvi isso", respondeu o presidente dos Estados Unidos, acrescentando: "Mas se posso ajudar a salvar o mundo de alguns problemas, estou disposto a fazê-lo. "

Teoria da conspiração

QAnon é antes de mais nada uma teoria da conspiração. Seus seguidores acreditam que uma conspiração satânica e pedófila controla secretamente o governo dos Estados Unidos e mais, controla todo o país. Essa rede maligna seria formada por figuras do Partido Democrata, como Hillary Clinton e Barack Obama, e grandes empresários.

De acordo com os QAnons, Donald Trump estaria há anos travando uma guerra clandestina para libertar os Estados Unidos deste grupo diabólico. Seria mesmo por esse objetivo que ele teria buscado a presidência dos Estados Unidos, em 2016.

Q, um usuário anônimo

QAnon - Rick Loomis/Getty Images - Rick Loomis/Getty Images
Apoiador de Trump segura "Q" gigante, em alusão ao movimento conspiracionista QAnon
Imagem: Rick Loomis/Getty Images

Por trás dessa teoria da conspiração, esconde-se um usuário anônimo. Seu pseudônimo é a letra Q, e ele afirma ser um oficial norte-americano. Desde outubro de 2017, Q publica mensagens criptografadas em fóruns anônimos que revelariam informações confidenciais sobre esta guerra secreta liderada por Donald Trump.

Há quase três anos, Q prevê a prisão iminente e simultânea de milhares de integrantes da suposta rede satânica, que seriam transferidos para a base militar norte-americana de Guantánamo, em Cuba, para serem julgados e condenados à morte. Nada disso, claro, aconteceu.

Mais e mais seguidores

Embora não exista qualquer evidência que permita corroborar as acusações da teoria da conspiração, o movimento tem a cada dia mais seguidores. Muitos pesquisadores vêm estudando há vários meses os motivos que poderiam explicar o que está se tornando um fenômeno político real nos EUA.

Os especialistas chamam a atenção para a maneira de Q formular suas mensagens. Muitas vezes são perguntas: "Qual político está no noticiário hoje em dia? Por quê? E como ele se relaciona com o político que foi o centro das atenções da mídia na semana passada?".

Essas perguntas vagas levam os apoiadores do QAnon a entrarem em ação eles próprios. Por horas a fio, eles vasculharão a web em busca de pistas que possam responder às perguntas de Q.

Assim, cada membro da própria comunidade QAnon produz todos os tipos de teorias conspiratórias, alimentando uma espécie de grande narrativa coletiva reservada para "insiders".

Os seguidores do QAnon também acreditam que estão recebendo mensagens codificadas do próprio presidente. Como quando Donald Trump pronunciou o número 17 em um de seus discursos — a letra Q é a 17ª letra do alfabeto.

Aos poucos, todos os tipos de teoria da conspiração que já existiam nos Estados Unidos passaram a ser integrados ao discurso QAnon: dos ataques de 11 de setembro de 2001 ao assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy, à epidemia de covid-19, ou mais recentemente às manifestações contra a violência policial.

Em um momento em que a desconfiança em relação às classes políticas tradicionais está ganhando terreno, seus apoiadores não estão mais localizados apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, incluindo a França. QAnon permite que um número crescente de pessoas sinta que tem uma explicação exclusiva para um mundo que está além de sua compreensão.

Da web para a política

Embora a mídia norte-americana publique pesquisas regularmente sobre o QAnon há anos, esse movimento ganha destaque agora porque seus seguidores estão cada vez mais visíveis.

Desde o início da campanha pela reeleição de Donald Trump, conspiracionistas vêm sendo aparecendo nos eventos de apoio ao presidente: a letra Q está por toda parte, impressa em camisetas e bandeiras.

Mas isso não é tudo. De acordo com a ONG Media Matters for America, especializada em verificar informações publicadas pela mídia conservadora norte-americana, mais de 60 candidatos republicanos que concorrerão às eleições legislativas em novembro próximo apoiaram ou propagaram o conteúdo do QAnon.

Em 4 de julho, Dia Nacional Americano, Michael Flynn, ex-assessor de segurança nacional de Donald Trump, postou um vídeo no Twitter no qual declama, rodeado por várias pessoas, o lema do movimento: "Onde um de nós vai, todos nós vamos."

Marjorie Taylor Greene, que venceu as primárias do Partido Republicano em 11 de agosto no conservador estado da Geórgia. apoia abertamente a QAnon e compartilha regularmente o conteúdo desse movimento. É quase certo que ela terá assento em Washington após a próxima eleição para a Câmara dos Representantes.

FBI vê 'ameaça de terrorismo'

Um ano atrás, o FBI chamou QAnon de uma "ameaça potencial de terrorismo doméstico". Nas últimas semanas, o Twitter fechou 7.000 contas vinculadas ao movimento. Depois de alguma resistência, o Facebook finalmente tomou atitude semelhante: 800 grupos, 100 páginas e 1.500 anúncios diretamente relacionados ao QAnon foram removidos de sua plataforma.

Hoje, os seguidores de QAnon são indiscutivelmente o grupo mais fervoroso de apoiadores de Donald Trump. É preciso dizer que o candidato tem tudo para agradá-los. Nunca um presidente divulgou tantas informações falsas. Nunca um presidente dos Estados Unidos questionou tanto as instituições de seu país.

Enquanto o presidente fica para trás nas pesquisas de intenção de votos, sua equipe de campanha está assumindo a liderança: vários jornais norte-americanos descobriram que anúncios eleitorais de sua campanha foram ao ar nos últimos dias incluindo elementos da iconografia de Qanon na televisão de diversos estados dos Estados Unidos.

Em 24 de agosto, o colunista do New York Times Paul Krugman resumiu: "QAnon é a última e melhor chance de Donald Trump. Sua única esperança de reeleição é o próprio medo".