Conflitos em Nagorno Karabakh: é possível encontrar uma solução para evitar a guerra entre Azerbaijão e Armênia?
O Conselho de Segurança da ONU se reúne nesta terça-feira (29) para debater a situação no enclave de Nagorno Karabakh, no sudoeste do Azerbaijão, após dois dias de confrontos que já deixaram cerca de 100 mortos, entre eles 11 civis. Os combates entre as forças azerbaijanas e os separatistas armênios são os mais violentos desde 2016. Até o momento, nada parece conseguir deter o conflito.
Ainda é possível evitar a guerra entre o Azerbaijão e a Armênia? Diante da violência dos três dias de confrontos e de um elevado número de mortos, a principal pergunta hoje é se um cessar-fogo, como o que foi realizado em 2016, seria a melhor estratégia.
A retórica da guerra e a febre patriótica que se manifestam nos dois países são elementos que podem entravar os esforços em prol da paz. Outro problema é que os combates se multiplicam mais rapidamente do que há quatro anos. Por isso, é preciso agir rápido e com meios de persuasão eficazes para convencer representantes das duas partes a se sentarem na mesa de negociações.
Rússia mediadora?
Uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito no enclave separatista de Nagorno Karabakh será realizada na noite desta terça-feira, mas o que será determinante é o papel da Rússia. É grande a expectativa sobre a posição de Moscou porque foi o governo russo quem negociou as tréguas precedentes, em 1994 e 2016.
Sem dúvidas, a Rússia é o país mais adequado atualmente para convencer as duas partes a dialogar. Moscou é um aliado muito próximo da Armênia e, sobretudo, tem boas relações com as autoridades Azerbaijão.
Historicamente, a Rússia exerce uma influência política, econômica e diplomática maior na região. Moscou não tem grande coisa a ganhar com este conflito, mas muito a perder, caso os combates se intensifiquem. Devido à aliança política e militar que tem com a Armênia o governo russo pode até mesmo se ver diretamente envolvido nos confrontos, no caso de uma incursão das forças do Azerbaijão em terrritório armênio.
No entanto, o grande problema da Rússia atualmente é a Turquia e a atitude incerta do presidente Recep Tayyip Erdogan sobre a questão, que parece incitar o Azerbaijão à guerra. Esse elemento complica consideravelmente a situação porque Moscou e Ancara se opõem em duas outras frentes, na Síria e na Líbia.
Nesta terça-feira, a Armênia afirmou que um caça-bombardeiro turco derrubou um de seus aviões militares. A informação foi imediatamente desmentida pela Turquia e pelo Azerbaijão.
Conflito no enclave
O Nagorno Karabakh é um território do Cáucaso historicamente povoado por armênios, mas que nos anos 1920 Stalin resolveu anexar ao Azerbaijão. Essa é a origem do conflito que provocou cerca de 30 mil mortos no início da década de 1990, quando o enclave proclamou sua independência da então União Soviética.
Desde a guerra vencida pelos armênios, o Azerbaijão reivindica a possessão do território. Nenhum país no mundo reconheceu até hoje a independência do Nagorno Karabakh. Por isso, o local se encontra em um "conflito congelado", típico da era soviética. No início de julho, novos incidentes entre a Armênia e o Azerbaijão foram registrados, anunciando uma nova etapa de confrontos.
Do ponto de vista azerbaijano, há a decepção com a chegada ao poder na Armênia de Nikol Pachinian. Acreditava-se que esse novo dirigente, vindo de uma revolução popular, em 2018, permitiria progressos no processo de paz. Mas ao contrário do que se esperava, o líder visitou o Nagorno Karabakh várias vezes e fez declarações polêmicas sobre a questão.
Do ponto de vista armênio, o problema é o recente alto investimento do Azerbaijão no setor militar, o que deixa a entender que a solução para o conflito seria mais através de uma nova guerra do que por negociações.
Papel da Turquia é criticado
A Turquia, aliada do Azerbaijão, é uma feroz adversária da Armênia. Ancara vem multiplicando as declarações de apoio e mesmo encorajando as tropas azerbaijanas. Alguns especialistas avaliam que essa atitude incita o Azerbaijão a se lançar em uma nova aventura militar. Desde domingo (27), o governo turco é o único a não se manifestar em prol da paz entre as duas partes.
Alguns observadores acreditam que a estratégia de Erdogan, que consiste em envolver a Turquia em conflitos exteriores, como os da Síria ou da Líbia, podem abrir um novo capítulo no conflito do Cáucaso. No entanto, a justificativa dada até o momento pelo Azerbaijão é que a Armênia e os separatistas do Nagorno Karabakh provocaram os novos confrontos no enclave.
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