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"Macron vai pagar caro": Críticas e protestos se espalham em países muçulmanos

Mais de 40.000 pessoas participaram da mobilização contra Macron, em Bangladesh - Divulgação / Twitter
Mais de 40.000 pessoas participaram da mobilização contra Macron, em Bangladesh Imagem: Divulgação / Twitter

27/10/2020 12h44

Milhares de pessoas saíram às ruas de Daca para protestar contra as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, a favor do direito de publicar charges do profeta Maomé. O cortejo foi interrompido antes de chegar à embaixada da França na capital de Bangladesh, um país predominantemente muçulmano. Na esteira dos protestos, uma série de organizações e lideranças de nações de maioria muçulmana provocam manifestações, queima de fotos de Macron e da bandeira francesa, com declarações mais ousadas como "Macron vai pagar caro" ou "Macron se tornou um terrorista". 

Milhares de pessoas saíram às ruas de Daca para protestar contra as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, a favor do direito de publicar charges do profeta Maomé. O cortejo foi interrompido antes de chegar à embaixada da França na capital de Bangladesh, um país predominantemente muçulmano. Na esteira dos protestos, uma série de organizações e lideranças de nações de maioria muçulmana provocam manifestações, queima de fotos de Macron e da bandeira francesa, com declarações mais ousadas como "Macron vai pagar caro" ou "Macron se tornou um terrorista".

O protesto teve início em frente ao principal templo islâmico do país, a Mesquita Nacional Baitul Mukarram, no centro de Daca, e reuniu cerca de 40.000 pessoas, de acordo com uma estimativa da polícia local.

Os manifestantes exibiam caricaturas do líder francês e exigiam um pedido de desculpas de Paris e a expulsão do embaixador da França em Bangladesh. "A França é inimiga dos muçulmanos. Aqueles que a representam também são nossos inimigos", disse Nesar Uddin, um jovem que participava do protesto.

"Macron vai pagar caro", asseguraram os manifestantes. Uma efígie do presidente francês foi queimada, enquanto alguns participantes o acusavam de "adorar a Satanás", após sua declaração de que a França não renunciaria às caricaturas do profeta.

Alguns carregavam cartazes com o incitamento ao boicote a produtos de origem francesa. "Os muçulmanos não deixarão isso passar em vão", afirmou Atiqur Rahman, porta-voz do Islã Andolan Bangladesh (IAB), um partido político islâmico que organizou a marcha. "[Macron] deve buscar tratamento. Ele não só se tornou o inimigo do Islã, mas também de todos os defensores da paz", acrescentou.

A polícia intensificou suas patrulhas em torno da embaixada. Bangladesh é um importante parceiro comercial da França, em particular com a sua indústria têxtil. A fabricante de cimento Lafarge é um dos principais investidores franceses no país, que também já enfrentou vários ataques islâmicos nos últimos anos. Em julho de 2016, pelo menos 17 estrangeiros morreram em um atentado cometido por um comando ligado ao grupo Estado Islâmico contra um café em Daca.

O partido IAB convocou mais protestos em todo o país para esta quinta (29) e sexta-feira (30).

Reações em outros países

Vários outros países muçulmanos, incluindo a Arábia Saudita e a Turquia, criticaram as declarações do presidente francês Emmanuel Macron durante à homenagem, na quinta-feira (22), a Samuel Paty. O professor de história foi decapitado após ter mostrado caricaturas do profeta Maomé em uma aula sobre liberdade de expressão. Porém, a interpretação estrita do Islã proíbe qualquer representação do profeta Maomé.

A enxurrada de críticas a Emmanuel Macron, assim como os apelos para boicotar os produtos franceses, foram alimentados, em particular, pela Turquia. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chegou a questionar, por duas vezes, a "saúde mental" de Macron.

Retratos do chefe de Estado francês também foram queimados na Síria, na Faixa de Gaza e na Líbia. Em vários países do Golfo, os produtos franceses já foram retirados das prateleiras.

Teerã convocou o número dois da embaixada francesa no Irã. Islamabad fez o mesmo com o embaixador francês no Paquistão. Na Jordânia, o ministro de Assuntos Islâmicos, Mohammed al-Khalayleh, protestou. O Marrocos condenou "vigorosamente" as caricaturas de Maomé.

O Alto Conselho Islâmico da Argélia, por sua vez, criticou uma "campanha virulenta" contra o Islã. O Conselho de Anciões Muçulmanos, com sede em Abu Dhabi e presidido pelo Grande Iman de Al-Azhar, anunciou sua intenção de processar a revista satírica Charlie Hebdo e "qualquer um que ofenda o Islã".

Líder checheno compara Macron a terrorista

O líder da república russa da Chechênia, Ramzan Kadyrov, criticou ferozmente nesta terça-feira a defesa do presidente francês Emmanuel Macron das charges do profeta Maomé, afirmando que Macron empurra os muçulmanos "para o terrorismo".

Comparando o próprio presidente a um "terrorista", ele criticou o presidente francês por "defender ações que são ofensivas a quase dois bilhões de muçulmanos em todo o mundo".

"Não sei em que condições Macron estava quando fez essa declaração, mas as consequências de tal reação podem ser muito trágicas", continuou Kadyrov, em uma mensagem em seu canal no Telegram. "O próprio presidente francês agora está se tornando um terrorista. Apoiando provocações, ele secretamente convoca os muçulmanos a cometer crimes", disse. "Você força as pessoas ao terrorismo, as empurra em direção a ele, você não lhes dá escolha e cria todas as condições para alimentar ideias extremistas nas mentes dos jovens", completou Kadyrov.

Na cerimônia de corpo presente de Samuel Paty na Universidade Sorbonne, o líder francês disse que o professor "foi morto porque encarnava a República que renasce a cada dia nas salas de aula, a liberdade que se transmite e se perpetua na escola".

Para o presidente Emmanuel Macron, Paty "foi a vítima da conspiração funesta, da burrice, da mentira, da raiva do outro e do que profundamente e existencialmente nós [os franceses] somos".