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Epidemiologista da Fiocruz-Amazônia faz apelo por envio de missão da OMS a Manaus

Paciente com covid-19 chega a hospital de Manaus - Carlos Madeiro/UOL
Paciente com covid-19 chega a hospital de Manaus Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Martin Bernard

Correspondente da RFI no Brasil 

22/01/2021 12h55Atualizada em 22/01/2021 14h20

A situação continua crítica no Amazonas, que vem registrando mais de cem mortes diárias por covid-19. No maior estado do Brasil (em extensão), o número de vítimas da doença se multiplica, sem dúvida devido à variante brasileira do vírus. Em entrevista à RFI, um epidemiologista da Fiocruz faz um apelo à OMS (Organização Mundial da Saúde).

Jesem Orellana, pesquisador e epidemiologista da Fiocruz-Amazônia, faz um verdadeiro pedido de socorro. O médico, que mora há 16 anos em Manaus, age sob o choque de uma crise sanitária sem precedentes e pede que a OMS envie urgentemente uma missão ao local.

Segundo ele, não é mais possível confiar nos governantes brasileiros. "Manaus está completamente perdida no meio desta pandemia. Não sabemos mais o que fazer para controlá-la", afirma.

Orellana diz que tudo indica que o que agravou a situação na capital amazonense foi a variante brasileira do coronavírus "em termos de contaminações e pressão dos serviços de saúde". "Sobretudo, essa mutação causou mais mortos. Não sabemos mais a quem apelar", salienta.

Nas últimas semanas, Manaus virou um verdadeiro cenário de guerra, com hospitais superlotados, multiplicação de infecções e óbitos, além da falta de oxigênio para o tratamento de casos mais graves da doença. Dezenas de pacientes morreram por asfixia ou por falta de assistência médica.

A cidade já havia sido extremamente castigada na primeira onda da covid-19 no Brasil, em abril de 2020. Devido à falta de espaço nos cemitérios, a prefeitura se viu obrigada a abrir fossas comuns para enterrar as vítimas da doença. No entanto, segundo Orellana, a situação é muito pior atualmente.

Caos se espalha pelo estado

A crise sanitária não atinge apenas Manaus. Em Iranduba, cidade de 50 mil habitantes a 40 quilômetros da capital amazonense, vários hospitais estão superlotados devido a essa nova onda de contágios atribuída à variante brasileira.

No hospital Hilda Freire, quase todos os 30 leitos estão ocupados por pessoas infectadas pelo coronavírus e 15 mortes foram registradas entre a última segunda (18) e quarta-feira (20), mais do que nos últimos quatro meses. As reservas de oxigênio que antes duravam duas semanas agora se esgotam em apenas um dia.

O único acesso a Iranduba é uma estrada onde alguns trechos estão bloqueados por terem sido danificados após fortes chuvas na região. É por esse caminho que devem passar os pacientes em estado grave para chegar até Manaus, a única das 63 cidades do estado a dispor de uma UTI e de onde são enviados os cilindros de oxigênio.

A cerca de 85 quilômetros a oeste de Iranduba, a cidade de Manacapuru registra 223 mortes por covid-19 por 100 mil habitantes. Essa é a taxa mais elevada do Amazonas. Na terça-feira (19), um atraso na entrega de oxigênio em uma cidade próxima, Caori, resultou na morte por asfixia de sete infectados pelo coronavírus.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informou o primeiro parágrafo, Manaus não tem mais de mil mortes diárias por covid-19. A informação foi corrigida.