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Reino Unido determina prazo de 48 h para retirada de civis do Afeganistão

20.ago.2021 - Afegãos se reúnem em uma estrada perto da parte militar do aeroporto de Cabul - Wakil Kohsar/AFP
20.ago.2021 - Afegãos se reúnem em uma estrada perto da parte militar do aeroporto de Cabul Imagem: Wakil Kohsar/AFP

Vivian Oswald

Da RFI em Londres

26/08/2021 07h30Atualizada em 26/08/2021 07h54

É cada vez mais estreito o prazo para a retirada de civis do Afeganistão. Na corrida contra o relógio, o Reino Unido diz que resgatou mais de 10 mil pessoas desde 13 de agosto, sendo dois mil nas últimas 24 horas. Milhares ainda esperam para embarcar no aeroporto de Cabul. No entanto, muita gente ficará para trás.

O governo britânico fala em uma "janela de oportunidade" que está por se fechar. Esse prazo está relacionado com a saída das forças de combate americanas que estão no país. Os Estados Unidos afirmaram que está mantida a data limite para a saída de 31 de agosto. Apesar dos esforços britânicos, que convocaram uma reunião do G7 para tentar convencer Washington a prorrogar este prazo, o governo do presidente democrata Joe Biden manteve os planos de retirada. O Talibã já tinha dito que não aceitaria uma extensão.

Com isso, a estimativa britânica é a de que a evacuação dos civis remanescentes se dê pelas próximas 48 horas. Depois disso, a prioridade do governo Boris Johnson seria a retirada dos cerca de mil militares, diplomatas e outros funcionários britânicos que ainda permanecem no país. Muitos indivíduos têm passaporte britânico ou afegãos elegíveis para tomar os voos de evacuação devem ficar para trás. Eles nem sequer conseguem se aproximar do aeroporto de Cabul, devido ao rígido controle do Talibã.

De acordo com dados apresentados pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, mais de 10 mil pessoas foram retiradas do Afeganistão desde o último 13 de agosto. Deste total, mais de 5.500 são afegãos com suas famílias. Estão aptos a se candidatar aos voos de evacuação os britânicos e afegãos que tenham trabalhado para o país nos últimos 20 anos, a exemplo de intérpretes e jornalistas.

Fim do prazo se aproxima

Embora garantam não medir esforços para aumentar o número de civis evacuados do país, o secretário de Relações Exteriores Dominic Raab, o secretário de Defesa Ben Wallace e a secretária do Interior Priti Patel, afirmam que "a janela de oportunidade no aeroporto de Cabul será fechada em breve". Foi o que declararam em carta conjunta enviada a parlamentares.

Os britânicos reconhecem que não é possível seguir com as operações de evacuação sem a ajuda americana. Vários países admitiram que o prazo de 31 de agosto não é suficiente. Londres tenta negociar uma "passagem com segurança" para terminar de resgatar as pessoas que querem deixar o Afeganistão diretamente a partir de Cabul ou por rotas alternativas. Boris Johnson disse que o futuro do apoio econômico e diplomático ao Afeganistão vai depender do tratamento concedido àqueles que querem deixar o país.

Ao todo, 82.300 pessoas já deixaram o Afeganistão desde que o Talibã tomou o poder no país. O Pentágono diz que pelo menos 10 mil pessoas aguardam para ser evacuadas. O aeroporto de Cabul é controlado pelas tropas americanas, com 5.800 homens garantindo a segurança do local e organizando o processo de retirada dos civis.

Nesta quinta-feira (26), os britânicos foram alertados pela secretaria de Relações Exteriores do Reino Unido para evitar o aeroporto da capital afegã por ameaça de ataque terrorista.

Críticas a Boris Johnson

O governo britânico recebeu muitas críticas até mesmo de dentro do próprio Partido Conservador de Boris Johnson. A classe política, independentemente da orientação, lamenta a decisão tomada pelos Estados Unidos - de quem o Reino Unido é um parceiro histórico - de manter o prazo de retirada sem o acordo de Londres.

Os talibãs tomaram o controle do Afeganistão 20 anos depois de terem sido expulsos por uma invasão liderada pelos Estados Unidos em que o Reino Unido teve papel proeminente. Especialistas do mundo inteiro avaliam a intervenção como um grande fiasco. O custo da guerra nessa duas décadas só para os britânicos terá saído entre 20 bilhões de libras e 40 bilhões de libras (algo entre R$ 144 bilhões e R$ 287 bilhões), apontam estimativas oficiais e outras realizadas por instituições independentes.