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Repórter em Cabul relata talibãs vestidos como americanos e com armas de última geração

17.ago.2021 - Combatentes do Talibã patrulham rua em Cabul com veículo blindado americano após tomada do poder no Afeganistão - Wakil Kohsar/AFP
17.ago.2021 - Combatentes do Talibã patrulham rua em Cabul com veículo blindado americano após tomada do poder no Afeganistão Imagem: Wakil Kohsar/AFP

31/08/2021 07h06Atualizada em 31/08/2021 08h21

"É um espetáculo bastante impressionante que podemos ver agora ao redor e no interior do aeroporto", relatou o repórter Cyril Payen, do canal de notícias France 24, que teve acesso ao aeroporto após o fim das operações americanas.

"Há carros e picapes virados, mesas que aparentemente foram usadas como escudo. Deve ter havido alguma luta aqui. Há carros com muitos buracos de bala. O terminal de voos domésticos está extremamente danificado, semidestruído. Carrinhos de bagagem encontrados em aeroportos ao redor do mundo foram usados como barreiras metálicas", testemunha o repórter.

"Caminhei dois quilômetros para chegar aqui. O Talibã nos deixou voltar", informa Payen do aeroporto. "O que vemos são milicianos talibãs. Na minha frente, vejo a famosa unidade de orças especiais do talibã, vestimos com uniformes americanos, muito bem equipados, com máscaras, e armas de última geração".

Segundo ele, um "tesouro de guerra recuperado nas recentes ofensivas do Talibã nas províncias do Afeganistão e em Cabul. "O comando do Talibã marchou assim, de forma muito simbólica, na pista do aeroporto", conta Payen.

Retomada relâmpago

O último avião C-17 decolou do aeroporto de Cabul em 30 de agosto" às 19:29 GMT, declarou em entrevista coletiva o general americano Kenneth McKenzie ontem. Após o anúncio, disparos de arma de fogo ecoaram em vários postos de controle do Talibã.

"Fizemos história novamente. Os vinte anos de ocupação do Afeganistão pelos Estados Unidos e pela OTAN chegaram ao fim esta noite", disse Anas Haqqani, líder do movimento islâmico, no Twitter.

A retirada militar de Washington foi concluída antes do final do dia em 31 de agosto, prazo estabelecido pelo presidente Joe Biden para retirar as últimas forças americanas do Afeganistão, onde haviam entrado em 2001, após a recusa do Talibã em entregar o líder da Al-Qaeda Osama bin Laden, após os ataques de 11 de setembro.

Duas décadas depois, o Talibã aproveitou a retirada gradual dos americanos nos últimos meses e o colapso das forças de segurança afegãs para entrar em Cabul em 15 de agosto e retomar o poder, após uma ofensiva militar relâmpago.

O retorno dos islâmicos ao poder forçou o Ocidente a retirar, às pressas, do aeroporto de Cabul seus cidadãos e afegãos que provavelmente sofreriam represálias por terem trabalhado para forças estrangeiras. Essa gigantesca ponte aérea, iniciada em 14 de agosto, permitiu a retirada de mais de 123 mil pessoas, segundo os últimos números divulgados pelo Pentágono.

"As retiradas militares foram concluídas, mas a missão diplomática para garantir a saída de mais cidadãos americanos e afegãos continua", disse o general Kenneth McKenzie.