EUA esperam resolver crise diplomática inédita com a França durante Assembleia Geral da ONU
Horas depois de o governo francês tomar a decisão inédita de chamar de volta o embaixador francês em Washington para consultas — após a "punhalada pelas costas" da venda de submarinos para a Austrália, no lugar do contrato firmado com os franceses —, os Estados Unidos disseram esperar resolver a crise diplomática com seus aliados históricos na próxima semana.
Os chanceleres dos Estados Unidos e da França, Antony Blinken e Jean-Yves Le Drian, estarão presentes na Assembleia Geral da ONU, que acontece em Nova York na terça-feira (21). "Temos estado em contato próximo com nossos aliados franceses" e "esperamos continuar nossa discussão sobre esta questão em alto nível nos próximos dias", afirmou o porta-voz diplomático americano Ned Price no Twittter, ontem.
Ele garantiu "entender" a posição de Paris e acrescentou que Washington tomou nota da decisão sem precedentes de chamar o embaixador francês para consultas em Paris. A França também convocou seu embaixador na Austrália ontem, uma decisão singular com relação a dois aliados históricos.
Mais cedo, um alto funcionário da Casa Branca já havia expressado seu "pesar" pelos franceses "terem dado esse passo". "A França é um parceiro vital e nosso aliado mais antigo, e acreditamos que nossa relação é extremamente valiosa", ressaltou Price, como parte dos esforços em andamento para apaziguar a ira francesa.
Contrato bilionário por água abaixo
A rusga começou na quinta-feira (15), depois que Canberra desistiu de comprar submarinos convencionais franceses, em troca de modelos americanos a propulsão nuclear. O contrato de US$ 66 bilhões tinha sido fechado com a França em 2016, para a venda de 12 aparelhos.
"Esta decisão excepcional é justificada pela gravidade excepcional dos anúncios feitos em 15 de setembro pela Austrália e os Estados Unidos", declarou o ministro Le Drian.
Paris não escondeu a irritação com o anúncio de uma aliança na região do Indo-Pacífico entre americanos, australianos e britânicos, e ainda mais pela opacidade em torno das negociações.
"A Aliança Transatlântica promove segurança, estabilidade e prosperidade em todo o mundo há mais de sete décadas, e nosso compromisso com esses laços e nossa colaboração é inabalável", ressaltou Price, mais uma vez prometendo uma "cooperação" com Paris "em vários assuntos, inclusive na região do Indo-Pacífico".
O presidente americano, Joe Biden, disse que o plano é parte de uma estratégia de longo prazo para garantir a segurança na região, onde a China representa uma ameaça crescente para a influência e a liderança dos Estados Unidos na vigilância das rotas marítimas internacionais. A nova aliança de segurança foi denominada Aukus.
Perda de confiança
A Austrália, por sua vez, disse ontem que espera continuar trabalhando em estreita colaboração com a França e que entende 'totalmente sua decepção" com o rompimento do acordo. "Não há dúvida de que essas são questões muito difíceis de lidar", declarou a ministra de Relações Exteriores australiana, Marise Payne, em Washington. "Mas seguiremos trabalhando de forma construtiva e próxima de nossos colegas franceses", afirmou Payne.
Ela disse que espera trabalhar com os franceses "para garantir que entendam o valor que damos ao papel que desempenham e que entendam o valor que damos à relação bilateral e ao trabalho que queremos continuar a fazer juntos". Na quinta-feira, a França acusou a Austrália de "apunhalá-la pelas costas" e disse que não confiaria mais nas negociações comerciais com o país. Também acusou os Estados Unidos de comportamento inapropriado para um aliado próximo.
Com informações da AFP
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