França convoca embaixadores nos EUA e Austrália após pacto militar
A França convocou para consultas seus embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália em reação ao pacto militar entre Washington, Londres e Canberra, anunciou nesta sexta-feira (17) o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian. O pacto, que ficou conhecido como Aukus, permitirá que a Austrália construa submarinos de propulsão nuclear pela primeira vez, a partir de tecnologia americana.
"A pedido do presidente da República, decidi chamar imediatamente para consultas nossos dois embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália. Esta decisão excepcional se justifica pela gravidade excepcional dos anúncios realizados em 15 de setembro por Austrália e Estados Unidos", declarou em um comunicado.
A convocação de um embaixador para consultas não significa um rompimento de relações diplomáticas entre os dois países, e sim um momento de tensão e insatisfação do governo que chama o representante diplomático de volta ao país, deixando a missão diplomática sem um representante temporariamente.
Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram na última quarta-feira (15) um acordo histórico de defesa, que inclui apoio ao desenvolvimento de submarinos nucleares por parte dos australianos, com o objetivo de mostrar força diante da China na região do Indo-Pacífico. As nações decidiram reforçar a cooperação em tecnologias avançadas de defesa, como inteligência artificial, sistemas submarinos e vigilância de longa distância.
A associação entre os três países levou ao cancelamento feito pela Austrália de um importante contrato de US$ 56 bilhões para a venda de 12 submarinos convencionais, e abriu uma crise entre Paris e Washington.
As autoridades francesas cancelaram uma noite de gala marcada para noite de hoje em Washington, após a quebra daquilo que eles consideravam como "contrato do século". Esta recepção, na residência do embaixador francês em Washington, deveria comemorar o aniversário de uma batalha naval decisiva da Guerra da Independência dos Estados Unidos, concluída com uma vitória da frota francesa sobre a britânica, em 5 de setembro de 1781.
O "golpe nas costas", a "traição de um aliado", como qualificou o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, referindo-se à Austrália, teve o efeito de um tapa na cara da França, na avaliação de Jean-Dominique Merchet, jornalista especializado em questões militares, autor do blogue "Secret Defense".
"A escolha dos australianos ilustra o estabelecimento de uma nova aliança global de segurança da qual a França não faz mais parte", disse Merchet em entrevista ao portal de notícias France Info.
Pacto militar de olho na China
O presidente dos EUA, Joe Biden, fez formalmente o anúncio em declaração à imprensa na Casa Branca, acompanhado por monitores que mostravam ao vivo as declarações dos primeiros-ministros da Austrália, Scott Morrison, e do Reino Unido, Boris Johnson.
Biden ressaltou que os submarinos que a Austrália conseguirá não terão "armas nucleares", mas estarão convencionalmente armados" e "potencializados por reatores nucleares".
O anúncio vem uma semana antes de Biden sediar na Casa Branca, no dia 24 de setembro, uma cúpula com os líderes da Austrália, Índia e Japão, com os quais mantém uma aliança para desafiar o poder da China.
Os quatro países compõem uma aliança criada em 2007 em resposta ao auge militar de Pequim. Biden receberá pessoalmente na Casa Branca os primeiros-ministros da Austrália, Scott Morrison; da Índia, Narendra Modi; e do Japão, Yoshihide Suga.
Em reação, a embaixada da China em Washington acusou os países de "mentalidade de Guerra Fria e preconceito ideológico", conforme registrou a BBC News Brasil. Um porta-voz da embaixada disse que as nações "não deveriam construir blocos de exclusão".
*Com informações das agências AFP, EFE e RFI
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