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No Parlamento Europeu, Lula mantém suspense e não nega Alckmin como vice

15/11/2021 16h53

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu nesta segunda-feira (15) o encontro 'Dia da América Latina', organizado pelo grupo Socialistas e Democratas do Parlamento Europeu, em Bruxelas. Lula, que não admite estar em campanha nem ser candidato para 2022, não nega ter "boas relações" com Geraldo Alckmin (PSDB), cotado para ser seu vice.

Paloma Varón, enviada especial da RFI a Bruxelas

Em uma coletiva de imprensa alguns minutos antes da conferência, Lula agradeceu a solidariedade da Europa quando esteve preso e na luta contra o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016. Lula falou dos seus 580 dias de prisão e aproveitou para alfinetar o ex-juiz Sergio Moro, que se filiou ao Podemos no último dia 10 e deve concorrer à presidência em 2022.

"O juiz que me processou está sob suspensão. Ele me colocou na prisão por 'fato indeterminado', porque queria ser ministro do presidente que ele ajudou a eleger', disse Lula.

Durante a entrevista, Lula não hesitou em criticar Bolsonaro. "Se ele pudesse, venderia tudo: o que tem e o que não tem", disse, sobre o projeto de destruição em curso e sobre o desmantelamento da Petrobras e do BNDES.

"O sonho dele, todo dia, é desfazer cada coisa que nós criamos", disse Lula, após a deputada europeia que organizou o evento, a espanhola Iratxe García Pérez, ter elogiado o programa o Bolsa Família, que ela considera como "um exemplo para o mundo."

Apesar de já ter dito que seria candidato à presidência em 2022 à revista francesa Paris Match, Lula desconversou durante a coletiva de imprensa. Mas disse que se sente em forma e confiante e que vai se casar (com sua namorada, Janja Lula) antes do pleito.

"O vice é muito importante"

Questionado pela RFI sobre os rumores de que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) seria seu vice, Lula mais uma vez desconversou: "Eu já tenho 22 candidatos vices e oito ministros da Economia, quando eu ainda nem decidi ser candidato. O vice é uma pessoa que tem de ser levada muito a sério, porque o vice pode ser presidente. Podem acontecer muitas coisas. O vice tem que ser uma pessoa que soma com o presidente e não que diverge", afirmou.

Em seguida, ele reafirmou suas boas relações com o ex-governador de São Paulo: "Eu tenho uma histórica relação de respeito com o Alckmin, eu fui presidente quando ele foi presidente. Nós conversamos muito. Não há nada que tenha acontecido entre mim e o Alckmin que não possa ser reconciliado".

"Política às vezes é como jogo de futebol. Você derruba o cara, ele cai chorando de dor, mas depois que termina o jogo eles se encontram, se abraçam, vão tomar uma cerveja e discutir sobre o próximo jogo', disse Lula usando uma de suas metáforas mais recorrentes, a do futebol.

"Política é assim, quando não há ofensa moral, quando não há ofensa pessoal, eu acho que nas divergências políticas todo mundo joga bruto porque todo mundo quer ganhar. Eu disputei as eleições de 2006 com o Alckmin, mas eu quero lhe dizer que tenho um profundo respeito por ele", concluiu. 

Lula não respondeu sobre uma possível comparação de Alckmin, cujo partido começou o processo de impeachment de Rousseff, com Michel Temer.

 

Homenagens de todos os políticos

Na conferência pelo Dia da América Latina, Lula foi o primeiro a falar, após a abertura da organizadora Iratxe García, e, ao terminar, foi ovacionado pelos deputados. "O mundo precisa de democracia, de paz não de guerra, de livros, não de armas; o mundo precisa de amor, não de ódio."

O ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero se disse emocionado ao ver Lula tão feliz. "Os vemos feliz e vamos vê-lo presidente", disse, lembrando do passado de metalúrgico de Lula. O mais importante na vida é fazer coisas pelos outros. Chamou Lula de "valente" e de "mestre da igualdade", "um exemplo".

Zapatero disse que Lula é um homem íntegro. "Foi o homem que mais falava dos pobres, da injustiça, da miséria e das desigualdades que já vi. Lula foi o líder político contemporâneo que mais fez pelos pobres', disse o ex-premiê espanhol.

Pária internacional

O evento era sobre a América Latina, mas todos os políticos que falaram depois de Lula o homenagearam e deixaram claro sua rejeição à "destruição do Brasil por Bolsonaro".

A deputada portuguesa Maria Manuel Leitão Marques defendeu as políticas de Lula na conferência. "Lula foi um grande combatente de causas como a desigualdade. Eu fui dar aulas em São Paulo a primeira vez, em 1996, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), na minha classe só havia pessoas brancas-brancas, o que não corresponde à realidade brasileira. Lula mudou este quadro", disse, lembrando que eles agora têm uma agenda em comum para o futuro.

"Eu acho muito importante a presença do Lula aqui porque o Brasil se tornou um pária internacional com o atual governo que tem. É preciso mostrar que existe um outro Brasil, que este Brasil pode voltar a ser dominante. Lula é um estadista global. Ele veio aqui para falar sobre temas de interesse do mundo inteiro", disse à RFI o ex-ministro das Relações Internacionais brasileiros Celso Amorim.

"Se o Lula ganhar a eleição, esta imagem de pária internacional se desfaz em um dia", disse Celso Amorim. A mensagem do Lula é o legado dele. O Brasil era ouvido por todos durante o governo do Lula", disse  ex-ministro das Relações Internacionais de Lula. "Quando roubaram a liberdade de Lula, roubaram a democracia do Brasil", declarou o ex-presidente do Equador Rafael Correa, presente no evento como convidado.

Em Bruxelas desde sábado (13), Lula também encontrou com políticos como Josep Borrel, vice-presidente da União Europeia, e lideranças da militância brasileira pró-Lula no Bélgica e da Holanda.

Maria Claudia Moura esteve entre o grupo que foi recebido pelo ex-presidente no domingo (14). "O momento mais marcante foi quando ele disse que se sente no dever moral de reconstruir o Brasil depois de todo o apoio que ele recebeu", disse.

Lula improvisou um discurso que, para alguns foi visto como um discurso de campanha, o que ele nega: "Discurso de campanha é quando a gente pede voto. Eu não pedi votos, só agradeci o apoio", disse o ex-presidente à RFI. A viagem europeia de Lula começou pela Alemanha, onde o petista encontrou o social-democrata Olaf Scholz, vencedor das últimas eleições e provável futuro chanceler alemão