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"Cúpula da Democracia" reúne 110 líderes para debater medidas contra o autoritarismo

O presidente americano, Joe Biden, tenta reforçar alianças e recuperar a posição de liderança americana no cenário global - Mandel Ngan/AFP
O presidente americano, Joe Biden, tenta reforçar alianças e recuperar a posição de liderança americana no cenário global Imagem: Mandel Ngan/AFP

Luiza Duarte

Correspondente da RFI em Nova York

09/12/2021 07h46

O governo americano realiza hoje a "Cúpula da Democracia". O evento virtual traz uma lista de mais de uma centena de convidados, muitos com questionáveis credenciais democráticas.

A presença do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), é um dos alvos de críticas. China e Rússia não estão entre os participantes e Singapura, Turquia e Hungria também ficaram de fora, enquanto aliados europeus e asiáticos ganharam espaço. A cúpula deve discutir modelo de sanções e ações para combater a corrupção, proteger os direitos humanos e resistir a "ameaças aos sistemas democráticos".

No encontro, representantes dos países farão discursos em vídeo de menos de cinco minutos cada. Não é esperado que eles anunciem compromissos durante a cúpula, mas, a seguir, devem se comprometer com um conjunto de ações. Resultados devem ser apresentados em uma nova reunião, que está programada para o segundo semestre de 2022. Além de representantes de governos, estão presentes membros de organizações da sociedade civil e lideranças jovens. O formato será semelhante à versão virtual da Assembleia Geral da ONU, devido à pandemia da Covid-19.

Influência americana

O presidente americano, Joe Biden, tenta reforçar alianças e recuperar a posição de liderança americana no cenário global. A reunião de países ditos "democráticos" também deixa de fora os dois maiores adversários americanos: China e Rússia. Com isso, a Casa Branca busca um estreitamento de posições entre aliados em oposição aos rivais que taxa de "governos autoritários".

Biden dará espaço para representantes da oposição em Hong Kong e do governo de Taiwan, em clara colisão com Pequim. Na próxima semana, os EUA vão impor uma série de sanções que visam indivíduos envolvidos em corrupção, violações dos direitos humanos e ameaças à democracia. O combate à corrupção foi classificado como de interesse nacional para Washington e deve se desdobrar na agenda diplomática.

Os EUA justificam a reunião evocando a necessidade de proteger democracias que enfrentam uma crise nos últimos anos. Pesquisas mostram uma crescente insatisfação com o modelo e golpes de Estado se multiplicam ao redor do mundo, com práticas autoritárias que ganham espaço. A erosão da democracia vem acontecendo mesmo dentro dos Estados Unidos, como evidenciou a invasão do Capitólio em janeiro deste ano.

A grande reunião internacional organizada pela Casa Branca vem sendo recriminada por ter uma agenda vaga, por incertezas sobre a capacidade de gerar resultados e por ter adotado um critério de democracia sinuoso. A lista de convidados é alvo de críticas, já que um terço dos países não preenchem os requisitos para serem considerados democracias plenas, de acordo com o relatório 2021 da ONG americana Freedom House.

A presença do Brasil, Índia, Polônia e Filipinas, entre outros, gerou desconforto. O convite para que Taipei participasse e não Pequim provocou novo atrito entre China e EUA, somado ao boicote americano aos Jogos Olímpicos de Inverno em 2022. Além disso, a legitimidade do governo americano para organizar um evento sobre democracia também vem sendo disputada.