Tanques da Rússia estão às portas de Kiev após fracasso de novas negociações
No 16° dia da invasão da Rússia na Ucrânia, os tanques russos estão às portas da capital ucraniana Kiev, após o fracasso de uma rodada de negociações de alto nível que terminou com acusações de que Moscou atacou corredores humanitários. A Rússia acusa Kiev e Washington de produzirem armas biológicas na Ucrânia e pediu a realização nesta sexta-feira (11) de uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU.
Os tanques russos chegaram às portas de Kiev nessa quinta-feira (10), seguindo a estratégia de Moscou de cercar as grandes cidades da Ucrânia. Uma equipe da AFP viu colunas de fumaça na cidade de Skybyn, a algumas centenas de metros do último posto de controle no extremo nordeste de Kiev.
Os tanques russos já haviam chegado aos subúrbios norte e oeste da capital. A cinco quilômetros de Kiev, a cidade de Velyka Dymerka foi alvo de foguetes russos Grad.
Segundo o Estado-Maior ucraniano, as forças russas continuam avançando para cercar Kiev sem abandonar outras frentes, como as cidades de Izium, Petrovske, Sumy, Ojtyrka e a região de Donestsk.
Os Estados Unidos e seus aliados da União Europeia disseram que podem adotar novas sanções contra a Rússia devido aos sinais de uma "escalada" nos ataques a civis, mas descartaram o envio de aviões de combate.
"Corredores humanitários" para a Rússia
A reunião entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Ucrânia, Sergei Lavrov e Dmytro Kuleba, nessa quinta-feira na cidade turca de Antalya, não obteve nenhum resultado concreto para a suspensão das hostilidades.
Kuleba indicou, no entanto, que eles decidiram "continuar seus esforços", embora "a Ucrânia não desistiu, não desiste e não desistirá", acrescentou. Lavrov disse que seu país está disposto a continuar as conversas no mesmo formato das três primeiras reuniões entre autoridades em Belarus. Uma reunião entre Putin e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi descartada por enquanto.
Lavrov reiterou que a Rússia "não atacou a Ucrânia", mas respondeu a "ameaças diretas contra (sua) segurança", e insistiu na desmilitarização e neutralidade da ex-república soviética.
Em reuniões paralelas com o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, os dois chanceleres disseram que estavam "dispostos" a trabalhar com o regulador da ONU para evitar incidentes nas várias instalações nucleares da Ucrânia.
Após a reunião, o governo russo anunciou que, mesmo sem acordo, seu exército abriria "corredores humanitários" para retirar os civis das cidades ucranianas sitiadas em direção a cidades na Rússia.
Situação humanitária crítica em Mariupol
A Rússia mantém o cerco de grandes cidades ucranianas, que também são alvo de intensos bombardeios. A situação obriga milhares de civis a passarem dias se protegendo em porões e abrigos improvisados. Em alguns lugares, a situação humanitária é crítica, segundo testemunhas.
De acordo com um representante do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Sasha Volkov, os habitantes de Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov, "começaram a brigar por comida". "Todas as lojas e farmácias foram saqueadas há quatro ou cinco dias", acrescentou Volkov, em uma gravação de áudio enviada à imprensa.
Na noite dessa quinta-feira, o presidente Zelensky denunciou que os russos atacaram uma estrada que seria usada por um comboio de ajuda humanitária à cidade, sitiada há dez dias.
Em Kiev, metade da população fugiu desde o início da invasão, relatou o prefeito Vitali Klitschko. Segundo Zelensky, cerca de 100 mil pessoas foram retiradas nos últimos dois dias de cidades sitiadas.
Em duas semanas, mais de dois milhões de ucranianos fugiram para países da União Europeia, cujos líderes estão reunidos em uma cúpula em Versalhes (a oeste de Paris) para analisar os impactos da guerra.
A comissária europeia para o Interior, Ylva Johansson, alertou que o fluxo de refugiados não para e
que isso representa um "desafio muito grande" para os 27 integrantes da UE. "Vamos ver cada vez mais pessoas fugindo da Ucrânia (...)", disse a comissária sueca. Na cúpula de Versalhes, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, descartou "uma via rápida" para a adesão da Ucrânia ao bloco, conforme solicitado por Kiev.
Reunião do Conselho de Segurança
Desde o início da invasão, os Estados Unidos e seus parceiros da Otan apoiam Kiev, mas evitam se envolver diretamente no conflito. No entanto, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos adotou um novo orçamento federal que inclui um pacote de quase US$ 14 bilhões de ajuda à Ucrânia, para financiar assistência humanitária, armas e munições.
O Ministério da Defesa russo acusa os Estados Unidos de financiar um programa de armas biológicas na Ucrânia e afirma ter encontrado evidências da produção dessas armas em laboratórios ucranianos.
Washington e Kiev negam a acusação, mas Moscou pediu uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU, na tarde desta sexta-feira, para analisar o tema.
Moscou já havia acusado em 2018 os Estados Unidos de realizar secretamente experimentos biológicos em um laboratório na Geórgia, outra ex-república soviética que, como a Ucrânia, pretende ingressar na Otan e na União Europeia.
Em uma reunião mensal do Conselho de Segurança sobre o uso de armas químicas na Síria — um dossiê que ainda está em aberto devido à falta de informação de Damasco denunciada pela ONU —, Washington e Londres mencionaram a Ucrânia. Desde quarta-feira, os Estados Unidos e o Reino Unido alertam que a Rússia poderia usar armas químicas na Ucrânia.
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