Topo

Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Esse conteúdo é antigo

Guerra na Ucrânia faz Alemanha rever suas políticas de armas e energia

15/03/2022 07h35

A Europa foi a região com o maior aumento de importação de armamentos nos últimos cinco anos, segundo um informe divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo. Com a crise na Ucrânia, a tendência é de uma aceleração da compra de equipamento militar no continente europeu. E a Alemanha está entre os países que estão aumentando maciçamente seus gastos no setor.

A guerra na Ucrânia tem obrigado o país a rever parâmetros, não só na questão de defesa, como também energética. Berlim anunciou nesta segunda-feira (14) que deve comprar 35 caças F-35 dos Estados Unidos. Esse é mais um sinal da guinada da política alemã de defesa causada pela guerra na Ucrânia.

Embora a ministra alemã da Defesa, Christine Lamprecht, tenha afirmado que a compra já era cogitada há algum tempo, ela admitiu que a decisão também é uma resposta à ameaça da Rússia.

Essa é a maior aquisição alemã de armamentos desde o início do ataque russo à Ucrânia. Os jatos de última geração F-35 devem substituir os caças bombardeiros Tornado, que são as únicas aeronaves na Alemanha certificadas para transportar bombas atômicas americanas.

Mudança numa postura de décadas

Após rejeitar por bastante tempo o envio de armas à Ucrânia, resistindo por semanas à pressão de Kiev e de aliados ocidentais e seguindo sua postura de décadas de não exportar armas a regiões em crise, Berlim não só decidiu enviar armamentos letais a Kiev, como também aumentar seus próprios gastos militares.

Três dias depois do início do ataque russo à Ucrânia, o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou a criação de um fundo especial de 100 bilhões de euros para modernizar as Forças Armadas alemãs só neste ano, além dos 50 bilhões de euros de gastos militares já previstos no orçamento para 2022.

Além disso, disse que, também em reação à guerra lançada por Putin, a Alemanha vai aumentar seu orçamento anual em defesa, que deverá ser superior a 2% do PIB. A cifra é uma referência de gastos usada pelos países membros da Otan.

Possível reviravolta na política energética

A invasão russa da Ucrânia provocou um abalo em muitos paradigmas alemães. Além da posição de evitar o envio de armas, que tem muito a ver com o pacifismo adotado pelo país por causa da história da Alemanha na Segunda Guerra, outra postura que está sendo questionada é em relação à política energética.

A Alemanha, que vinha se preparando para abandonar totalmente a energia nuclear, já cogita manter os reatores funcionando por mais tempo para enfrentar os altos preços da energia causados pela guerra. Principalmente o gás.

O país tem grande dependência da Rússia nesse setor. Cerca de metade do fornecimento de gás do país vem da Rússia. Não é à toa que Berlim está entre os governos mais resistentes à aplicação de sanções mais radicais ao gás russo, como reivindicam alguns parceiros ocidentais. Nesse ponto, a suspensão do gasoduto Nord Stream 2 já significou muito, e analistas acham pouco provável que a Alemanha apoie novos cortes mais amplos ao fornecimento energético russo a médio prazo.

A ideia de adiar o abandono da energia nuclear é considerada controversa dentro do governo. Mas só o fato de já ser levada em consideração já causa surpresa.

Em 2011, a então chanceler alemã Angela Merkel anunciou a eliminação progressiva da energia nuclear no país. A decisão foi tomada logo após o acidente com o reator atômico em Fukushima, no Japão.

Só três usinas nucleares ainda funcionam na Alemanha, depois que três usinas foram desativadas no fim do ano passado. A desativação delas está planejada para o fim deste ano

Discussões sobre carvão

Outra ideia que vem sendo cogitada na Alemanha é o protelamento do fim da produção energética a carvão, combustível que é uma pedra no sapado dos ambientalistas, por ser um dos vilões do aquecimento global.

O atual governo da Alemanha tinha como meta abandonar o carvão por volta do ano 2030, oito anos antes do que tinha sido previsto pela gestão anterior, de Angela Merkel.

A proposta é um esforço da nova coalizão governamental - composta por liberais, conservadores e verdes - para reduzir o uso de combustíveis fósseis e adotar fontes energéticas mais sustentáveis e com menos reflexos no aquecimento global.

Mas esse plano vai sendo cada dia mais questionado à medida que vão aumentando os bombardeios russos na Ucrânia.