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Quem é Osman Kavala, bilionário turco e inimigo de Erdogan condenado à prisão perpétua

Osman Kavala, filantropo turco nascido em Paris, falando durante um evento em Istambul - AFP PHOTO / ANADOLU CULTURE CENTER
Osman Kavala, filantropo turco nascido em Paris, falando durante um evento em Istambul Imagem: AFP PHOTO / ANADOLU CULTURE CENTER

25/04/2022 15h05

O mecenas turco Osman Kavala foi condenado nesta segunda-feira (25) à prisão perpétua em Istambul, sem possibilidade de redução de pena, acusado de tentar derrubar o governo da Turquia em duas ocasiões. Corajoso e admirado, ele se tornou, nos últimos anos, símbolo da repressão contra a sociedade civil.

O bilionário de 64 anos sempre negou as acusações de tentativa de derrubar o governo financiando manifestações contra o presidente Recep Tayyip Erdogan. Na época em que o atual chefe de Estado era primeiro-ministro, no chamado "movimento de Gezi", em 2013, centenas de milhares de cidadãos tomaram as ruas do país para protestar contra sua política autoritária.

Ao longo dos anos, outras acusações foram adicionadas contra Kavala, como de participação na tentativa de golpe de Estado em julho de 2016. O mecenas está detido há quatro anos e meio na prisão de alta segurança de Silivri, perto de Istambul.

Os três advogados de defesa de Kavala chamaram a atenção nesta segunda-feira para a falta de provas e a perversidade do processo, classificado de "claramente político". Outros sete réus, que compareceram ao mesmo tempo que o filantropo a um tribunal de Istambul, foram condenados a 18 anos de prisão, acusados de ter fornecido apoio.

Com o passar do tempo, a imprensa pró-governo apelidou Kavala de "o bilionário vermelho", comparando-o ao húngaro-americano George Soros, detestado por líderes autoritários em todo o mundo. Como ele, o turco se transformou no inimigo número um do poder na Turquia. O próprio Erdogan o acusou diversas vezes de ser "o representante de Soros na Turquia" e de "financiar terroristas", sem jamais apresentar qualquer prova.

Direitos de minorias

Nascido em 1957 em Paris, Kavala fez estudos de economia na Universidade de Manchester, no Reino Unido, antes de tomar as rédeas dos negócios da família na Turquia quando o pai faleceu, em 1982. Célebre por apoiar projetos culturais relacionados aos direitos de minorias, como a questão curda e a reconciliação armeno-turca, ele se dedicou progressivamente à edição, à arte e à cultura.

O filantropo bilionário é descrito por seu círculo de amigos como humilde e cortês, mas direto e determinado. Em 1983, inaugurou a editora Iletisim, uma das mais prestigiosas da Turquia. Permitir à sociedade turca debater sobre assuntos difíceis - como o genocídio armênio, por meio de projetos culturais - era também uma das principais missões da Anadolu Kültür, uma fundação que Kavala criou em 2002. Para acolher exposições, ele transformou um antigo depósito de tabaco, que herdou no centro de Istambul, no Depo, em um importante centro cultural.

"Nunca o vi rejeitar qualquer ideia interessante, que se tratasse de um projeto literário ou cinematográfico", conta a cineasta Asena Günal.

Kavala chegou a ser inocentado em fevereiro de 2020 da acusação de ter financiado as manifestações de Gezi. No entanto, a decisão foi invalidada e ele foi preso algumas horas depois, dentro de uma investigação sobre a tentativa de golpe de Estado de julho de 2016.

"Ele é a última pessoa que poderia apoiar um golpe de Estado. É revoltante vê-lo ser alvo de um jogo político incompreensível", afirma Emma Sinclair-Webb, diretora do escritório turco da ONG Human Rights Watch.

Ancara não se rende à pressão

Em fevereiro deste ano, a Corte Europeia dos Direitos Humanos abriu um processo contra a Turquia, uma decisão extremamente rara que poderia ter como consequência sanções contra o governo turco se Kavala não fosse libertado. A medida não teve nenhum efeito em Ancara.

No mês passado, o Ministério Público turco pediu uma condenação à prisão perpétua à Kavala, sem possibilidade de liberdade. A decisão foi considerada pelo filantropo como "um assassinato judiciário". Na última sexta-feira (22), ele já havia declarado que nada compensaria os quatro anos e meio de sua vida perdidos na prisão. "A única coisa que poderá me consolar será contribuir para revelar os graves erros da justiça turca".

(Com informações da AFP)