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Policial que reprimiu protestos pró-democracia em Hong Kong é nomeado líder na cidade

10.out.19 - Ativistas pró-democracia seguram letras iluminadas por LED que lêem "Free HK" enquanto formavam uma corrente humana em Lion Rock em Hong Kong - Anthony Wallace/AFP
10.out.19 - Ativistas pró-democracia seguram letras iluminadas por LED que lêem "Free HK" enquanto formavam uma corrente humana em Lion Rock em Hong Kong Imagem: Anthony Wallace/AFP

08/05/2022 05h07Atualizada em 08/05/2022 08h27

O ex-chefe de segurança John Lee, que supervisionou a repressão ao movimento pró-democracia em Hong Kong, foi nomeado neste domingo (8) como novo líder da cidade por um pequeno comitê de partidários de Pequim. O ex-policial de 64 anos foi o único candidato que se apresentou para suceder a Carrie Lam, chefe do Executivo que decidiu não disputar um novo mandato de cinco anos.

Esta é a primeira vez que um oficial de segurança assume a liderança do governo de Hong Kong. John Lee conquistou a confiança das autoridades em Pequim ao aplicar com determinação a linha dura imposta pelo presidente chinês, Xi Jinping, contra os manifestantes pró-democracia que participaram da onda de protestos de 2019. A repressão ao movimento permitiu à China assumir o controle político total da ex-colônia britânica, e Lee entrou para a lista de funcionários chineses e de Hong Kong sancionados pelos Estados Unidos.

"Entendo que levarei algum tempo para convencer a população", admitiu John Lee à imprensa no domingo. "Mas eu posso fazer isso por meio da ação", destacou. Lee acrescentou que pretende construir uma Hong Kong "repleta de esperança, de oportunidades e harmonia", agora que as autoridades haviam "restaurado a ordem após o caos".

Os detalhes da política que o novo dirigente implementará em seu mandato só serão conhecidos após a posse, programada para 1° de julho, quando será celebrado o 25º aniversário da transferência de Hong Kong do Reino Unido para a China. A cidade nunca foi uma democracia, o que tem alimentado anos de frustração da população e, às vezes, protestos maciços e violentos.

Lee foi designado para liderar o governo local por um comitê eleitoral composto atualmente por 1.461 pessoas, cerca de 0,02% da população, de 7,4 milhões de habitantes. Após uma breve votação secreta no domingo, 99% dos membros do órgão (1.416) votaram a favor do ex-policial e oito votaram contra, de acordo com as autoridades. Trinta e três membros não votaram.

"Demonstração do espírito democrático"

Pequim saudou a escolha quase unânime, afirmando que esse resultado demonstrou que "a sociedade de Hong Kong tem um alto nível de reconhecimento e aprovação" a Lee. "Esta é uma verdadeira demonstração do espírito democrático", declarou o Departamento de Assuntos de Hong Kong e Macau, em um comunicado.

A rigorosa lei de segurança nacional imposta por Pequim em 2020, para erradicar a dissidência em Hong Kong, proíbe manifestações. A legislação estabeleceu uma reforma do sistema político que garante que a cidade seja administrada exclusivamente por "patriotas" leais ao regime chinês. Além desse aparato repressivo, a pandemia de Covid-19 serviu como pretexto para as autoridades locais limitarem as reuniões públicas a no máximo quatro participantes.

De acordo com relatos da mídia local, cerca de 6.000 a 7.000 policiais foram mobilizados para evitar qualquer incidente durante o processo de nomeação do novo líder do Executivo.

Tentativa de protesto

A Liga dos Sociais-Democratas - um dos últimos grupos pró-democracia restantes - encenou uma manifestação de três pessoas antes da abertura das seções eleitorais. Os participantes bradaram "poder ao povo, sufrágio universal já". "Sabemos que esta ação não terá consequência, mas não queremos que Hong Kong fique completamente silenciosa", disse a manifestante Vanessa Chan, enquanto dezenas de policiais observavam o pequeno grupo de militantes.

O movimento pró-democracia foi asfixiado pela lei de segurança nacional, mas grande parte da população ainda nutre um profundo ressentimento contra Pequim e contra as desigualdades enraizadas na sociedade de Hong Kong. As condenações à prisão de manifestantes aumenta esse rancor.

A ex-colônia britânica, transformada em terceiro maior centro financeiro do mundo, continua a viver praticamente isolada por causa de suas drásticas restrições à pandemia.

Com informações da AFP