Com objetivo de retomar negócio de armas, Turquia recebe Suécia e Finlândia
Com uma lista pronta de exigências antiterroristas a Turquia recebe hoje os secretários de Estado da Suécia e da Finlândia. Os dois países nórdicos são candidatos à Otan, mas o governo de Ancara está usando seu poder de veto na aliança militar, sob o argumento de luta antiterrorista, para retomar negociações de armas.
Na última semana, o presidente turco alertou para os representantes da Suécia e da Finlândia nem perderem tempo viajando para Ancara. Mas de lá para cá aumentou, no cenário internacional, a visibilidade de Tayyip Erdogan, com sua aparente oposição inflexível de acolher os países nórdicos na Otan em vez de escolher um processo diplomático discreto para expor suas reservas aos novos candidatos.
Além disso, os governos de Estocolmo e Helsinque fizeram declarações e até telefonemas às autoridades turcas em busca de acalmar os ânimos antes da visita desta quarta-feira. A delegação finlandesa será chefiada pelo secretário de Estado Permanente de Negócios Estrangeiros, Jukka Salovaara, e as autoridades suecas pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Oscar Stenstrom.
De acordo com as normas da Otan, as medidas devem ser aprovadas por consenso entre os 30 países-membros. O presidente turco diz que é por segurança que ele votará "não" à adesão da Suécia e da Finlândia à aliança militar, da qual a Turquia faz parte.
Ele acusa os dois países nórdicos de acolher organizações terroristas, numa referência ao partido separatista curdo, o PKK. A partir dos anos 80, Suécia e Finlândia receberam refugiados políticos curdos.
Helsinque e Estocolmo afirmam ter as mesmas intenções do presidente turco contra o terrorismo. Mas Erdogan quer agora garantias por escrito num acordo assinado, não apenas intensões manifestadas em conversas diplomáticas.
PKK não é único motivo do veto
O governo de Ancara costuma culpar ameaças externas em nome da segurança interna. As demandas divulgadas pela imprensa local foram: o fim do apoio financeiro ao grupo armado curdo, a suspensão de conferências do PKK nos parlamentos sueco e finlandês e o processo de extradição dos membros da organização curda. Por fim, evidências de que Suécia e Finlândia não apoiam atividades que vão contra a estabilidade da Turquia, o que, para o governo de Ancara, seria incompatível com a posição de aliado na Otan.
Internamente, esse discurso de coesão nacional tem o intuito de elevar a popularidade enfraquecida de Erdogan.
Mas a Turquia espera mais. Quer a volta da exportação de armas bloqueadas desde um desacordo com o Ocidente na Síria, em 2019. Na época, a Suécia, com suporte dos Estados Unidos, forneceu apoio ao braço armado do PKK para lutar contra o Estado Islâmico, o que levou a Turquia a estremecer o laço com o governo de Washington na região e a também convocar o embaixador sueco no começo do ano passado.
A Turquia foi excluída do programa americano de aviões de combate F-35. Por isso, conta com o fim do embargo militar e também com novos acordos para adquirir armas.
Comércio de armas retomado com Reino Unido
O Reino Unido retirou a suspensão de armas para a Turquia no fim da última semana. O presidente turco conversou com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que reforçou a parceria internacional de defesa entre os dois países.
Não só o governo de Ancara quer voltar a comprar armas dos Estados Unidos e de países da Europa, como também ampliar a exportação das suas próprias armas. A Arábia Saudita, por exemplo, estaria interessada em comprar drones do mesmo modelo que a Turquia está enviando para a Ucrânia. A empresa fabricante, que é turca, já exporta para 20 países.
Em relação a outros países do Oriente Médio, depois de anos contra Emirados Árabes, Egito e Israel, por exemplo, Erdogan iniciou recentemente um esforço de reconciliação. Isso porque repudiar em público para barganhar no privado faz parte da estratégia do presidente turco. Devido à sua localização estratégica, ele pode forçar aliados a recuar, o que permite que seus excessos internos e externos sejam ignorados.
Ao sul da Rússia, com acesso ao Mar Negro, dividindo fronteiras com Síria, Iraque e Irã, além da longa costa mediterrânea: sua posição contribuiu para a influência da Turquia na Otan, que, ao que tudo indica, continuará forte.
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