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Ucrânia descarta paz com Moscou antes da retirada de tropas russas

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, descartou negociações enquanto a invasão perdurar - Reprodução/TV Globo
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, descartou negociações enquanto a invasão perdurar Imagem: Reprodução/TV Globo

18/08/2022 15h39

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenski descartou, nesta quinta-feira (18), qualquer negociação de paz com Moscou antes da retirada das tropas russas de seu território. Em Lviv, no oeste da Ucrânia, o presidente turco Recep Tayip Erdogan garantiu estar do lado de Kiev e alertou sobre o perigo de uma "nova Chernobyl", enquanto o secretário-geral da ONU, Atonio Guterres, disse que danificar a usina nuclear de Zaporíjia seria um "suicídio".

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenski descartou, nesta quinta-feira (18), qualquer negociação de paz com Moscou antes da retirada das tropas russas de seu território. Em Lviv, no oeste da Ucrânia, o presidente turco Recep Tayip Erdogan garantiu estar do lado de Kiev e alertou sobre o perigo de uma "nova Chernobyl", enquanto o secretário-geral da ONU, Atonio Guterres, disse que danificar a usina nuclear de Zaporíjia seria um "suicídio".

Antonio Guterres, Volodymyr Zelensky e Recep Tayyip Erdogan se reuniram para buscar por uma solução política para o conflito e discutir a segurança da central nuclear de Zaporíjia, além do recente acordo para a exportação de cereais ucranianos, afirmou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.

"Devemos dizer as coisas como como elas são: qualquer dano potencial a Zaporíjia seria suicídio", afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres após o encontro. Ele pediu mais uma vez a "desmilitarização" da usina localizada ao sul da Ucrânia e ocupada pelo Exército russo. Guterres afirmou estar "seriamente preocupado" com a situação na maior usina nuclear da Europa.

Ao afirmar o apoio da Turquia à Ucrânia, o presidente Recep Tayyip Erdogan expressou preocupação com o perigo de se repetir o maior acidente nuclear civil até hoje. Em 26 de abril de 1986, o reator número 4 da usina de Chernobyl explodiu, liberando uma nuvem radioativa que se espalhou por toda a Europa. "Enquanto continuamos nossos esforços por uma solução, nós estivemos e continuaremos ao lado de nossos amigos ucranianos", afirmou Erdogan.

"Poderosa mensagem de apoio"

De acordo com Zelensky, a visita a Lviv de seu colega turco é uma "poderosa mensagem de apoio" ao seu país. Ele descartou, no entanto, qualquer acordo de paz com Moscou sem a retirada prévia das tropas russas do território ucraniano. "Pessoas que matam, estupram, atacam nossas cidades com mísseis de cruzeiro todos os dias não podem querer a paz. Eles devem deixar nosso território primeiro, então veremos", disse o presidente em uma coletiva de imprensa. "Não confie na Rússia", acrescentou Zelensky.

Mais cedo, a Rússia negou que seu Exército armazene "armas pesadas" na central nuclear localizada ao sul da Ucrânia. A usina de Zaporíjia está ocupada desde março pelas tropas russas e é alvo de frequentes bombardeios. Moscou e Kiev trocam acusações sobre a autoria dos ataques.

Moscou acusa Kiev de planejar uma "provocação" na central nuclear para coincidir com a visita à Ucrânia do secretário-geral da ONU.

Na quinta-feira passada, Antonio Guterres e os Estados Unidos pediram o estabelecimento de uma zona desmilitarizada ao redor da usina para garantir a segurança do local e permitir uma missão de inspeção.

Na quarta-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse ser "urgente" uma "inspeção" da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na usina. A ocupação do local por soldados russos "constitui uma séria ameaça à sua segurança e aumenta o risco de um acidente ou incidente nuclear", destacou Stoltenberg em entrevista coletiva na Bélgica.

ONU quer "intensificar" exportações de grãos antes do inverno

A reunião Zelensky-Erdogan-Guterres ocorre em um cenário de crescentes negociações para permitir a retomada das exportações de grãos da Ucrânia.

Além de um encontro bilateral com Zelenski, Guterres visitará Odessa, nesta sexta-feira (19), um dos três portos utilizados no acordo de exportação de cereais. Depois, ele viaja para a Turquia, onde pretende conhecer o Centro de Coordenação Conjunta (CCC) que supervisiona o acordo.

Guterres prometeu que a ONU vai trabalhar para "intensificar" as exportações de grãos ucranianos antes do início do inverno (no hemisfério Norte), pois eles são cruciais para o abastecimento de alimentos de muitos países africanos. Os carregamentos foram bloqueados por vários meses após a invasão russa da Ucrânia, levantando o espectro de uma crise alimentar global.

Em julho, um acordo assinado entre a Rússia e a Ucrânia e validado pelas Nações Unidas e pela Turquia possibilitou a retomada dessas exportações. Erdogan, que atua como mediador sobre o assunto, foi à Rússia, no início de agosto, para conversar com Vladimir Putin sobre o assunto.

Um primeiro navio humanitário fretado pela ONU, carregado com 23.000 toneladas de trigo, deixou a Ucrânia na terça-feira (16), com destino à Etiópia. Nesta quinta-feira, um navio carregado de grãos partiu, o 25º desde a assinatura do acordo, anunciaram as autoridades portuárias ucranianas.

No total, "mais de 600.000 toneladas de produtos agrícolas ucranianos" passaram pelo "corredor de grãos" dos portos de Odessa, Pivdenny e Chornomorsk. Os principais destinos dos produtos foram Turquia (26%), Irã (22%) e Coreia do Sul (22%).

Ucrânia e Rússia estão entre os maiores exportadores mundiais de grãos. Os produtos registraram uma disparada dos preços desde a invasão russa, em 24 de fevereiro.

De acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA), 345 milhões de pessoas em 82 países enfrentam uma situação de insegurança alimentar aguda - um número recorde - e até 50 milhões de pessoas, em 45 países, correm o risco de morrer de fome caso não recebam ajuda humanitária.

Combates prosseguem e provocam novas vítimas civis

Poucas horas antes da reunião entre o secretário-geral da ONU e os presidentes da Ucrânia e da Turquia para falar sobre o impacto da guerra e possíveis soluções para o conflito, a Rússia bombardeou a região de Kharkiv, matando pelo menos cinco pessoas.

Outro bombardeio com mísseis nesta quinta-feira atingiu a cidade de Krasnograd, a 80 quilômetros ao sul de Kharkiv, deixando dois mortos, segundo o governador da região, Oleg Sinegoubov.

No Sul da Ucrânia, uma pessoa morreu e outras duas ficaram feridas, após um ataque em Mykolaiv, anunciou seu prefeito, Oleksandr Senkevych.

Na quarta-feira (17), Kharkiv já havia sido atingida por bombardeios que mataram sete pessoas, de acordo com as autoridades locais. Localizada a apenas 40 quilômetros da fronteira russa, a cidade é alvo frequente de ataques do Exército russo desde o início da guerra, mas não foi ocupada pelas tropas invasoras. Centenas de civis morreram na região desde o começo da invasão, de acordo com as autoridades locais.

(Com AFP)