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Medidas contra inflação tendem a encarecer produção do petróleo na Europa, diz analista francês

Opep concordou em manter a redução de dois milhões barris diários até o fim de 2023 - GETTY IMAGES
Opep concordou em manter a redução de dois milhões barris diários até o fim de 2023 Imagem: GETTY IMAGES

04/12/2022 13h05Atualizada em 04/12/2022 21h28

Os países membros da Opep+ decidiram, neste domingo (4), manter os níveis de produção de petróleo, em meio a um contexto econômico instável e às vésperas da entrada em vigor das sanções contra o petróleo russo. A RFI ouviu Philippe Sébille-Lopez, diretor da empresa Géopolia, especialista em questões geopolíticas energéticas e autor do livro "Geopolítica do Petróleo", que falou sobre o impacto da decisão.

Em um comunicado, os representantes dos 13 integrantes da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus dez aliados, incluindo a Rússia, concordaram em manter a redução de dois milhões barris diários até o fim de 2023, decidida em outubro para manter os preços. A decisão, anunciada após uma rápida reunião por videoconferência, irritou o governo dos Estados Unidos, que buscava a diminuição dos preços nos postos de gasolina.

Desde então, os dois preços de referência no mercado mundial registraram queda e são negociados atualmente entre US$ 80 e US$ 85, bem abaixo dos US$ 130 por barril decididos em março, pouco depois do início da invasão da Ucrânia. "Isso valida nossa estratégia. Era a forma correta de agir para estabilizar os mercados", acrescenta o comunicado.

A próxima reunião da Opep+ foi marcada para 4 de junho de 2023, mas o grupo se mostrou disposto a organizar um encontro antes da data para adotar "novas medidas imediatas", em caso de necessidade.

"De um ponto de vista puramente econômico, e considerando que o preço do petróleo resulta do equilíbrio entre a oferta e a demanda, todas essas medidas que visam lutar contra a inflação, incluindo a alta da taxa de juros, tendem a tornar a produção ainda mais cara, sobretudo na Europa. Isso pode limitar, talvez, uma parte das necessidades energéticas", analisa Philippe Sébille-Lopez.

Impacto na exportação russa

Paralelamente, a Rússia está indignada com a decisão da União Europeia, G7 e Austrália de limitar o preço do petróleo do país.

A medida entrará em vigor na segunda-feira (5), quando também terá início o embargo da UE às entregas marítimas de petróleo russo. Isso impedirá os envios do produto da Rússia em navios-tanque para a UE, que representam dois terços das importações. Isso reduzirá o financiamento de Moscou para a guerra na Ucrânia em bilhões de euros.

O preço do barril de petróleo russo é negociado, atualmente, em cerca de US$ 65, pouco acima do teto de US$ 60 anunciado pela comunidade internacional, o que implica um efeito limitado a curto prazo.

"Será necessário esperar para ver qual será o impacto real da medida nas exportações russas", sublinha o especialista francês. "Essas medidas reforçam uma situação que já existia e somente em fevereiro veremos qual será impacto da exportação do diesel - os russos eram o principal exportador de diesel para a União Europeia", lembra o analista europeu. O Kremlin ameaçou suspender as entregas a qualquer país que adotar a medida.

Queda no preço

Em um cenário sombrio e diante do temor de recessão mundial, o petróleo do tipo Brent do Mar do Norte e seu equivalente americano WTI registraram queda de 8% no preço desde a reunião mais recente da Opep, em outubro.

Embora a Opep+ tenha optado pela cautela, a aliança pode "adotar uma postura mais agressiva" nos próximos meses, em uma advertência ao Ocidente, diz o analista do UniCredit, Edoardo Campanella. "Isto pode agravar a crise energética mundial", adverte. E pode irritar Washington, cujos esforços diplomáticos para conseguir uma redução dos preços fracassaram.

(RFI e AFP)