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UE propõe autorizar herbicida associado ao câncer por mais 10 anos

A Comissão Europeia propôs na quarta-feira (20) prorrogar a autorização do glifosato na União Europeia por mais 10 anos. Isso representa o primeiro passo formal para uma possível nova autorização, se a Agência Europeia de Segurança Alimentar der um parecer favorável. Conhecido através do Roundup da Monsanto, este controverso herbicida foi classificado há oito anos como "provável cancerígeno" pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A proposta do executivo europeu será analisada na sexta-feira (22) por representantes dos 27 Estados-membros.

De renovação temporária em renovação temporária, a autorização do glifosato na União Europeia vai atualmente até dezembro deste ano. Mas a última prorrogação foi emitida sujeita à avaliação científica.

Cerca de 2.400 estudos foram então examinados por especialistas da UE e dos Estados-membros ao longo dos últimos quatro anos e a conclusão é que não existe nenhuma "área crítica de preocupação", exceto a utilização de glifosato para secar a plantação antes da colheita, prática que será banida.

A saúde humana e o ambiente foram considerados na proposta, segundo Stefaan De Keersmaecker, porta-voz da Comissão Europeia. "Tomamos decisões com base nas evidências científicas mais recentes, por exemplo, da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (FSA). A FSA realizou uma avaliação do glifosato que mostra que o seu impacto na saúde não suscita preocupações", afirmou.

"Portanto, a Comissão propôs a renovação da autorização do glifosato, mas sob condições restritas. Ao mesmo tempo, a ciência nunca para e, por isso, devemos continuar a acompanhar de perto todos os desenvolvimentos científicos, com a possibilidade de surgirem novos elementos", disse.

Provável cancerígeno

Em 2015, a OMS classificou o glifosato perigoso para a saúde humana e "provável cancerígeno". Para Pascal Canfin, eurodeputado do grupo Renew - do partido de Emmanuel Macron - e presidente da Comissão do Ambiente no Parlamento, o executivo europeu alinhou-se com a posição defendida pela indústria química.

"Esta proposta é totalmente inaceitável porque o parecer científico da Agência Europeia para a Segurança Alimentar diz claramente duas coisas: por um lado, que não há realmente razão para proibir o glifosato amanhã devido à sua natureza cancerígena. Mas diz também que existem zonas cinzentas suficientes, por exemplo, o fato de o glifosato, em análises científicas, nunca ter sido analisado com o que chamamos de adjuvantes, ou seja, como é efetivamente utilizado pelos agricultores. Porque, quando é vendido, o glifosato é enriquecido com adjuvantes", explica o deputado.

O glifosato é normalmente vendido em fórmulas que combinam outros produtos químicos como fertilizantes nitrogenados (ureia e sulfato de amônia) para aumentar a eficiência do herbicida no controle de plantas daninhas. Estes adjuvantes, como são chamados, também aumentam seu nível de periculosidade.

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"Este impacto não é medido pelos cientistas e a própria Agência Europeia para a Segurança dos Alimentos reconhece. Portanto, estas são duas razões muito claras que deverão levar a Comissão a ter uma posição equilibrada. Equilibrado significava talvez reautorizar, mas com condições rigorosas e certamente não durante 10 anos. Por isso, a proposta apresentada pela Comissão é absolutamente inaceitável tal como está", insistiu.

A Comissão propõe restrições, como a impossibilidade de tratar as bordas das parcelas, mas cada país ficará livre para impor suas próprias condições. A França se opõe a esta versão, defendendo uma eliminação gradual do glifosato em situações em que existam alternativas para os agricultores.

O glifosato é o herbicida mais utilizado no mundo. Apesar de ser acusado de ser nocivo para a saúde o meio ambeinte, ele continua sendo o mais usado no mundo agrícola. Na França, 8.600 toneladas do produto químico foram vendidas em 2020.

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