Macron ataca direita e esquerda e busca aliança para combater 'extremos'

O presidente francês, Emmanuel Macron, lançou nesta quarta-feira (12) a campanha de seu partido, Renascimento, para as eleições legislativas antecipadas, atacando diretamente a direita e a esquerda. O movimento acontece três dias após o chefe de Estado anunciar a dissolução da Assembleia Nacional, diante de uma vitória histórica da extrema direita nas eleições europeias.

Segundo Macron, esse é um momento "histórico" e "de esclarecimento". Fazendo duras críticas à esquerda "republicana", por ter se aliado ao partido França Insubmissa, da esquerda radical, e a alguns membros da legenda conservadora Republicanos, por terem se unido aos ultranacionalistas da legenda Reunião Nacional, o líder centrista se apresentou como a única solução capaz de governar a França.

"Desde a noite de domingo, as máscaras caem e a batalha dos valores explode à luz do dia", afirmou Macron durante entrevista coletiva.

Após o anúncio da dissolução da Assembleia, há três dias, as forças políticas da França dialogam para tentar organizar coligações. Na esquerda, os quatro maiores partidos — França Insubmissa, Socialista, Comunista, Europa Ecologia Os Verdes — anunciaram sua união na segunda-feira (10), com a possibilidade de apresentar chapas únicas para o pleito. Já o tradicional partido de direita, Republicanos, vive um racha depois que seu presidente, Éric Ciotti, assinalou sua vontade de se aliar à legenda de extrema direita Reunião Nacional, grande vencedora das eleições europeias de domingo.

Visivelmente irritado com as rápidas alianças, Macron classificou tanto a direita quanto a esquerda como "dois extremos que não estão de acordo com nada", e disse que são "dois blocos que empobrecem o país", lembrando que as coligações "não têm maioria para governar". Por diversas vezes, o presidente citou o nome do líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, chamando o seu partido, o França Insubmissa, de "antissemita", devido à resistência de alguns membros da legenda de considerar o grupo Hamas como terrorista.

Segundo Macron, seu campo é o único bloco com "um projeto de governo coerente", e que pode "responder aos desafios de hoje e de amanhã". "Uma vez que se essa eleição passar, poderemos realizar um diálogo construtivo e aberto", prometeu.

Na sequência, o chefe de Estado convocou uma união em torno da maioria presidencial, dizendo-se "pronto a integrar as propostas dos social-democratas, republicanos e ecologistas que queiram alimentar uma coerência". "A realização de projetos não é dizer 'quem me ama que me siga', mas mostrar uma vontade sincera e humilde de construir o consenso", indicou.

Propostas de Macron

Em cerca de meia hora de discurso, seguida de mais de uma hora de perguntas de jornalistas, Macron fez uma série de propostas, prometendo "mais segurança, mais rigor, colocar em prática leis que foram votadas", entre eles, "textos europeus para reduzir a imigração ilegal". Para retomar "a autoridade republicana", o presidente quer "o fortalecimento da soberania" e o respeito de valores republicanos. Assim, ele espera realizar "um grande debate sobre a laicidade".

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Macron também evocou a necessidade de lutar contra "o aumento da violência entre menores". Dentro do espírito de reforço da autoridade liderada pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, o chefe de Estado garante que "medidas claras e radicais estão sendo preparadas".

O presidente ainda mencionou sua "ambição ecológica e econômica", confirmando colocar em funcionamento "oito novos reatores nucleares" na França. Para "viver melhor no cotidiano", o chefe de Estado prevê "respostas concretas", como a questão do custo da energia e a prioridade a profissões mal remuneradas. "As aposentadorias serão corrigidas em relação a inflação", disse.

Sobre sua reforma da Previdência, que levou milhões de pessoas às ruas da França no primeiro semestre de 2023, Macron reconheceu a impopularidade do projeto, mas disse acreditar que ele "correspondente a uma ética de responsabilidade". Sobre as propostas da oposição de revogar a medida caso chegarem ao poder, o líder francês considera "incompatível com a preservação do poder aquisitivo".

O presidente também confirmou o cancelamento da reforma eleitoral na Nova Caledônia, território francês no oceano Pacífico palco de uma revolta inédita em décadas.

Sem renúncia e debate com Le Pen

Macron descartou liderar a campanha das eleições legislativas, uma tarefa atribuída ao primeiro-ministro francês, Gabriel Attal. O presidente também voltou a negar que haja a hipótese de uma renúncia em caso de fracasso de seu partido nas eleições legislativas: "Isso é absurdo".

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Outra ideia refutada é a possibilidade de debate com a principal líder da extrema direita na França, Marine Le Pen.

Eu fiz essa proposta de clarificação antes das eleições europeias porque ela pediu. Ela não compareceu ao compromisso (...). Compreendo que a senhora Le Pen queria retomar as eleições presidenciais dizendo, em seguida, que era preciso que eu renunciasse. Eu a convido a reler a Constituição. Então, a resposta é não.
Emmanuel Macron, sobre debate com Marine Le Pen

O chefe de Estado ainda expressou sua vontade de combater a nova guinada dos ultranacionalistas. "Não quero dar as chaves do poder à extrema direita em 2027", disse, em referência às próximas eleições presidenciais. "A reação deve ocorrer agora", completou, afirmando a necessidade de interromper um processo "feito na surdina".

"Sim, eu tenho uma responsabilidade", afirmou no final da sessão de perguntas e respostas com os jornalistas presentes na coletiva. Macron afirma que o cenário atual mostra a necessidade de "governar de forma diferente", "no respeito e na calma". "Esse caminho não somente é possível, como é desejável e a ser conquistado", concluiu.

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