Demissão de Carlos Tavares, CEO da Stellantis, dona da Fiat, Peugeot e Maserati, estremece o mercado

O português Carlos Tavares, CEO do grupo Stellantis, anunciou no domingo (1°) que deixaria o cargo. A notícia da saída do executivo estremeceu o mercado financeiro e o setor automobilístico, mas foi apreciada pelos sindicatos. 

A renúncia de Carlos Tavares como CEO da Stellantis tem efeito imediato, segundo informou o grupo por meio de um sucinto comunicado de imprensa. A decisão é resultado de uma diferença de opiniões entre o diretor-executivo e o Conselho de Administração, de acordo com Stellantis.

No final de setembro, a montadora franco-italiana-americana indicou que havia lançado um processo de sucessão para seu CEO, cujo mandato terminaria no início de 2026. "Faltando pouco mais de um ano para o fim de um contrato de cinco anos assinado em janeiro de 2021, é perfeitamente normal que um conselho de administração considere o assunto com a antecedência necessária, tendo em vista a importância do cargo, sem que isso pressagie qualquer discussão futura", havia informado o grupo na época em um comunicado enviado às agências de notícias.

Mesmo assim, a notícia da demissão foi recebida com surpresa, já que o executivo de 66 anos deveria se aposentar no início de 2026. Seu sucessor deverá ser conhecido no primeiro semestre de 2025.

A Stellantis, que produz veículos das marcas Chrysler, Citroën, Fiat, Jeep, Dodge, Lancia, Opel, Peugeot, Ram, Maserati e Vauxhall, registrou uma queda acentuada nos resultados do primeiro semestre, prejudicada em particular por uma queda de 18% nas vendas na América do Norte. O próprio Carlos Tavares admitiu, no final de julho, que a multinacional estava passando por um "período de transição muito acidentado" e que esperava se recuperar no segundo semestre do ano.

A notícia da demissão de Tavares teve um impacto imediato no valor da empresa. Logo após a abertura do mercado financeiro, as ações da Stellantis perderam mais de 7%. Em um cenário de dificuldades para o setor automotivo, as ações da Renault caíram 3,97% no início da manhã em Paris, e o os papeis da Volkswagen, cujos funcionários iniciaram uma greve na segunda-feira, registraram uma queda de 1,49% em Frankfurt.

'Psicopata do desempenho'

Vindo da Renault, onde começou a carreira em 1981 e chegou a ser o n°2 da montadora, abaixo do franco-líbano-brasileiro Carlos Ghosn, Tavares ganhou fama ao reerguer grupo PSA (Peugeot-Citroën) a partir de 2014, com uma gestão baseada principalmente em cortes de custos. Em seguida, ele liderou a megafusão entre a PSA e a FCA (Fiat-Chrysler). Desde a criação desse grupo com quatorze marcas em 2021, a Stellantis registrou resultados recordes, com lucro de € 18,6 bilhões em 2023.

Tavares se descrevia como um "psicopata do desempenho". Na Stellantis, ele aplicou a mesma receita da PSA Peugeot-Citroën: além de reduzir custos nas fábricas, com vários cortes de empregos e alguns fechamentos, fez negociações difíceis sobre compras que deixaram os fornecedores desesperados e era conhecido pelo alto nível de exigências que fazia a suas equipes. Talvez, por essa razão, enquanto o mercado tremia, os sindicados celebravam a saída de Tavares, criticado por seus métodos de gestão.

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O português também se orgulhava de defender o "poder de precificação" de suas marcas, ou seja, sua capacidade de cobrar preços mais altos por seus modelos, a fim de acabar com os grandes descontos comerciais que estavam reduzindo as margens. No entanto, nos últimos trimestres o grupo tem estagnado, perdendo força nos mercados da Europa e da América do Norte. Uma desaceleração em partes em razão dos preços elevados de seus produtos, aliada à deterioração generalizada do mercado automobilístico.

(Com agências)

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