Manifestação em Damasco pede democracia e respeito aos direitos das mulheres sírias
Centenas de pessoas foram às ruas, nesta quinta-feira (19), na praça Umayyad, no centro de Damasco, para pedir mais democracia e respeito aos direitos das mulheres. Após a queda de Bashar al-Assad, a transição está sendo liderada pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que já foi ligado à Al Qaeda.
Oriane Verdier e Julien Boileau, enviados especiais da RFI a Damasco
Os sírios temem que o novo governo adote uma política religiosa rígida, marginalizando as comunidades minoritárias e excluindo as mulheres da vida pública. Obaida Arnout, porta-voz do governo de transição da Síria, disse nesta semana que a "natureza biológica e fisiológica" das mulheres as tornava inadequadas para certos cargos no governo.
Após tomar o poder, os rebeldes abriram prisões e escritórios do governo e gerando expectativas de que os responsáveis por crimes cometidos durante a guerra civil de mais de 13 anos na Síria sejam responsabilizados. Mas a população está reticente.
"Meu nome é Ahmad Youssef, sou o diretor da rádio Sham FM. Estou aqui porque as novas autoridades fecharam nossa estação de rádio. Sob o regime, nenhum meio de comunicação tinha liberdade. Agora nos acusam de ser uma estação de rádio do regime e 60 pessoas estão desempregadas sem motivo", denuncia.
Sana Warhou veio defender seus direitos. "Estamos vivendo dias de incertezas. As últimas declarações das autoridades foram vagas sobre o papel das mulheres na reconstrução da Síria. Viemos aqui para lembrar às pessoas que é importante empoderá-las", diz.
Abdel Hafez Chelbak e suas filhas, que também foram às ruas, não defendem as reivindicações pela instauração de um governo laico. "Acredito que o Islã pode garantir direitos e liberdade para todos os seres humanos. O próprio profeta Maomé disse que todos deveriam ser respeitados e livres para se expressar", lembra.
Ao redor da praça, membros do HTS em uniformes militares, com Kalashnikovs nos ombros, acompanham os protestos. "As pessoas pensam que somos terroristas", explica um deles. "Estamos aqui para defender os muçulmanos", diz, antes de se corrigir: "Estamos aqui para defender os cidadãos".
Retomada econômica
O grupo islâmico HTS espera, ao dar garantias de reabertura da Síria, obter o cancelamento das sanções internacionais que pesam sobre o país. Após 13 anos de guerra e 50 anos de ditadura, a economia do país está paralisada.
"Ainda me considero um rebelde, mesmo diante das novas autoridades. Então prefiro ter cuidado", diz um executivo sírio que trabalha há cerca de 30 anos no mercado financeiro.
"As sanções impostas pelos Estados Unidos visaram certas pessoas no regime de Assad. Mas o regime usou isso contra o povo sírio para nos oprimir. Por exemplo, proibiram qualquer exportação ou importação que não estivesse sob seu controle", explica.
Uma das primeiras medidas econômicas da autoridade transitória foi reduzir as tarifas alfandegárias e permitir as importações e exportações, mas isso não basta, lembra o executivo ouvido pela RFI. "As novas autoridades dizem que querem ajudar a todos. Mas não vejo nada de concreto no momento", aponta.
"Antes de falar sobre economia, devemos nos concentrar na visão política do governo de qualquer maneira. Os sírios estão prontos para passar fome, para lutar, mas as visões políticas devem representá-los. Por enquanto, o povo está preocupado que apenas representantes do HTS façam parte da equipe de transição", resume.
"Mulheres são indispensáveis"
As mulheres são "absolutamente indispensáveis" para a reconstrução da Síria, disse a chefe da Agência de Migração da ONU (OIM), Amy Pope, pedindo que elas tenham "seu lugar na nova sociedade".
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Quero receber"Juntamente com nossos outros parceiros nas Nações Unidas, instamos o governo interino a continuar a empoderar as mulheres, pois elas desempenharão um papel absolutamente indispensável na reconstrução do país", declarou em uma coletiva de imprensa. Ela diz temer a influência negativa de algumas facções islâmicas.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU enviará uma equipe de observadores à Síria na próxima semana pela primeira vez em anos após a queda do presidente Bashar al-Assad.
A informação foi divulgada pelo porta-voz da ONU, Thameen Al-Kheetan, em uma coletiva de imprensa na sexta-feira. Durante o regime de Assad, especialistas da ONU não tinham permissão para entrar na Síria, segundo Thameen al-Kheetan. De acordo com ele, a ONU foi forçada a "observar abusos à distância".
A equipe da ONU atuará em apoio às questões de direitos humanos e ajudará a garantir que a transição política seja "inclusiva e respeitando as regras do direito internacional". "É importante para nós começarmos a estabelecer uma presença", disse ele. A ONU também enviará investigadores à Síria para reunir evidências que possam implicar altos funcionários do antigo governo.
(RFI e AFP)
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