Tragédia do voo AF 447

Pilotos podiam ter salvo o voo 447, diz chefe do BEA

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

Os pilotos do voo 447 da Air France, que caiu no Atlântico em 2009, podiam ter salvo a situação depois que o avião perdeu os dados de velocidade. A opinião é de Jean-Paul Troadec, chefe do Escritório de Investigações e Análise (BEA), órgão oficial francês encarregado das investigações do acidente.

"A situação era salvável", afirmou Troadec a repórteres depois da divulgação do novo relatório sobre o acidente nesta sexta-feira (29), em Paris.

O jato Airbus 330 mergulhou no Atlântico em junho de 2009, quando fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, matando todas as 228 pessoas a bordo.

O terceiro relatório [leia a íntegra aqui] sobre as investigações técnicas da tragédia revela que os pilotos não adotaram o procedimento adequado após os primeiros problemas detectados durante o voo: perda de indicadores de velocidade --falha para a qual eles não foram treinados para lidar, segundo o BEA-- e perda de sustentação da aeronave.


"Os pilotos não identificaram a situação de perda de sustentação", apesar do alarme sonoro que se ativou durante 54 segundos, traz o relatório.

O documento diz ainda que eles não aplicaram o procedimento necessário após o congelamento das sondas (sensores de velocidade) pitot, o que provocou a perda dos indicadores de velocidade.

O BEA informou que os comandantes da aeronave "não receberam treinamento sobre os procedimentos adequados a serem tomados em grandes altitudes".

O piloto que comandava a aeronave efetuou uma manobra manual no momento, uma vez que o piloto automático foi desativado após a perda dos indicadores de velocidade.

O relatório afirma que o comandante da aeronave foi descansar às 2h da madrugada sem deixar "claras recomendações" aos dois copilotos que ficaram no controle do airbus. Ele voltou à cabine às 2h11 e a gravação é interrompida às 2h14.

Foi divulgado também que a tripulação não avisou os passageiros dos problemas que enfrentava na cabine.

Reação da Air France

A companhia aérea Air France afirmou nesta sexta-feira, em um comunicado, que "nada permite colocar no banco dos réus as competências técnicas da tripulação" do voo Rio-Paris.


Depois da divulgação do terceiro relatório do BEA, a Air France defendeu o "profissionalismo" de seus tripulantes e questionou a "confiabilidade do alarme depois da perda de sustentação" do Airbus A330.

A ministra de Ecologia e Transportes da França, Nathalie Kosciusko-Morizet, afirmou hoje que o BEA "define os fatos, baseado nesses fatos, estabelece recomendações. A responsabilidade é papel da Justiça”.

O primeiro relatório detalhando o acidente, divulgado em maio, apontava uma falha nas sondas Pitot, que medem a velocidade e são fabricadas pela empresa francesa Thales, mas não foi possível estabelecer se isso poderia ser a causa do acidente.

Com a recuperação dos primeiros dados das caixas-pretas, foi revelado ainda que um problema técnico privou os pilotos de dados válidos sobre o voo com os quais seria possível evitar que a aeronave caísse no mar após três minutos e meio de queda livre.

Os especialistas indicaram que houve uma divergência nos leitores de velocidade que fez com que o piloto automático desligasse e forçou os pilotos a tomar decisões sem ter à sua disposição informações corretas sobre a performance do avião.

Até agora, os investigadores tinham apontado como causa uma falha nas sondas de medição da velocidade, danificadas pelo gelo e que dessa forma enviaram informações contraditórias à cabine. Mas o BEA sempre advertiu que esse problema não podia ser sozinho a causa do acidente.

O relatório final do órgão, previsto para ser divulgado no início de 2012, deve determinar onde ocorreu o erro e se os pilotos atuaram de forma adequada.

Tanto Airbus quanto a Air France estão sendo processadas pela justiça francesa pelo acidente, embora ambas as empresas rejeitem qualquer responsabilidade sobre o mesmo.

*Com agências internacionais

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