Na guerra entre EUA e China, governo brasileiro deveria torcer pela guerra
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Guimarães Rosa tem uma frase que serve com perfeição para definir o comportamento que deveria ser adotado na implantação da tecnologia 5G. O escritor ensinou que "a onça, quando dá o bote, é porque já olhou tudo que tinha de olhar." A onça, no caso do 5G é o Brasil. O país realizará no ano que vem um megaleilão. Será um dos maiores negócios do planeta em 2021. Somos assediados por Estados Unidos e China.
O que faria a onça? Observaria a cena. Colocaria americanos e chineses para brigar entre si. Ouviria o que cada um tem a oferecer. E só então, depois de observar adequadamente a cena, daria o bote, servindo aos brasileiros a opção mais suculenta —aquela que atenda mais adequadamente ao interesse nacional. O que faz o governo Bolsonaro? Associa-se de antemão à estratégia do presidente americano Donald Trump.
É contra esse pano de fundo que Eduardo Bolsonaro brinca de tuiteiro, escrevendo e apagando nas redes sociais manifestações anti-China. Com suas diatribes, o filho do presidente leva o governo do seu pai a exercitar no seu grau máximo a principal característica da atual gestão: a falta de nexo. Enquanto o sub-chanceler Ernesto Araújo troca caneladas com a embaixada chinesa para defender o filho do chefe, o vice-presidente Hamilton Mourão enaltece a China, maior parceira comercial do Brasil há 11 anos.
O Brasil tornou-se palco de uma guerra tecnológica entre China e Estados Unidos. O melhor que o governo brasileiro tem a fazer é apostar na guerra. Os americanos acusam a Huawei, gigante chinesa do 5G, de espionar para a ditadura chinesa. A suspeita é compartilhada por algumas das principais democracias do mundo. A Huawei opera no Brasil há 20 anos.
Cabe aos negociadores brasileiros indagar dos chineses o que têm a oferecer em termos econômicos e de segurança. Os americanos não dispõem de tecnologia. Defendem a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia. Ofereceram no final de outubro linhas de crédito de US$ 1 bilhão. As telefônicas brasileiras dizem que é pouco. É preciso exigir mais.
Se a decisão for contra a Huawei, os chineses não terão do que reclamar, porque Estados Unidos e os fornecedores europeus terão feito as propostas mais vantajosas. Assim deveria ser se o Brasil encarasse o negócio do 5G como a onça da frase de Guimarães Rosa. Mas o governo Bolsonaro prefere se comportar como um gatinho mimoso aninhado no colo de Donald Trump, que deixa a Casa Branca em 20 de janeiro. Isso não faz nexo.
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