Agressores de Moraes são tratados com padrão do 8/1
Num país em que a Justiça tarda e nem sempre chega, o inquérito sobre a agressão sofrida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes corre com rara rapidez. Os fatos sob investigação ocorreram na última sexta-feira. Num intervalo de apenas cinco dias, Moraes formalizou uma representação, a Polícia Federal abriu inquérito, o Ministério da Justiça requisitou imagens captadas pelas câmeras do aeroporto de Roma, a Procuradoria-Geral da República avalizou pedido de busca e apreensão nos endereços dos acusados, a presidente do Supremo Rosa Weber ordenou a batida policial e a perícia iniciou a análise de celulares e computadores apreendidos.
Deve-se o ritmo de toque de caixa ao desejo do aparato repressor do Estado de submeter os acusados —o casal Roberto Mantovani Filho, sua mulher Andréia Munarão e o genro deles, Alex Zanatta— a uma punição exemplar. Na prática, o caso é tratado com o mesmo rigor aplicado contra os encrencados no quebra-quebra de 8 de janeiro. Alega-se que o tratamento draconiano é necessário para desestimular novos casos de hostilidade de simpatizantes de Bolsonaro contra autoridades que o ex-presidente acusa de persegui-lo por razões políticas.
Em postagem nas redes sociais, o ministro Flávio Dino (Justiça), superior hierárquico da Polícia Federal, defendeu a legalidade das apreensões de equipamentos eletrônicos dos suspeitos. Escorou a ação nos indícios que saltam do episódio. "Tais indícios são adensados pela multiplicidade de versões ofertadas pelos investigados", anotou Dino. "Sobre a proporcionalidade da medida, sublinho que passou da hora de naturalizar absurdos".
Os acusados apresentaram à PF versões que contrastam com as alegações de Alexandre de Moraes. Há um consenso em torno da tese segundo a qual as imagens a serem fornecidas por autoridades italianas servirão como tira-teima, numa espécie de VAR judicial.
O Ministério da Justiça trabalha com a hipótese otimista de que as imagens de Roma chegarão ao Brasil antes do final de semana. Entretanto, antes mesmo da análise das fitas, formou-se em Brasília uma convicção quanto à culpa dos investigados. Avalia-se que Moraes não comprometeria sua credibilidade inventando um enredo ficcional.
Nesta quarta-feira, numa entrevista concedida em Bruxelas, Lula como que expressou o sentimento que viceja no núcleo do Poder: "Nós precisamos punir severamente pessoas que ainda transmitem ódio, como o cidadão que agrediu o ministro Alexandre de Moraes no Aeroporto de Roma", disse Lula. "Um cidadão desses é um animal selvagem, não é um ser humano".
Lula prosseguiu: " Essa gente que renasceu no neofascismo colocado em prática no Brasil tem que ser extirpada, e nós vamos ser muito duros com essa gente para eles aprenderem a voltar a ser civilizados".
É como se Lula imaginasse que, tomando o veneno do radicalismo, conseguirá matar os radicais. Resta agora saber se a raiva servirá como antídoto contra o ódio que intoxica a arena pública no Brasil.
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