Inteligência da Abin chega à CPI como um fenômeno paranormal
O quebra-quebra de 8 de janeiro mostrou que a inteligência da Agência Brasileira de Inteligência é ultrassecreta. Mal comparando, a inteligência da Abin é como fenômeno paranormal. Dizem que existe. Mas ver mesmo ninguém viu. Num esforço para manter o mistério, Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Abin, queria que seu depoimento à CPI do Golpe, marcado para esta terça-feira, ocorresse em sessão secreta. O pedido é um flerte com o ridículo. Seu atendimento seria uma fronta à plateia.
Saulo Cunha estava no comando da Abin no fatídico 8 de janeiro. Pediu o depoimento a portas fechadas sob a alegação de que a citação de nomes de agentes da Abin pode comprometer atividades ou missões de inteligência de que tenham participado ou estejam participando. Tolice. O depoente será espremido sobre o milagre da incompetência. Os nomes dos santos de pau oco podem ser fornecidos em privado.
A desinteligência que desguarneceu os Três Poderes no dia da intentona tornou-se um segredo de polichinelo. Em depoimento à Polícia Federal, o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias, falou em "apagão" e mencionou a "ausência de informações relevantes" sobre a intentona. Conversa mole.
Havia informações de sobra. Os golpistas mobilizaram-se nas redes para a "festa de selma". Ofereceram pistas sobre hora, local e as três "trincheiras" —uma no Congresso, outra no Supremo e uma terceira no Planalto.
Os alertas fluíram na informalidade de um grupo de WhatsApp da Abin. O general com nome de poeta foi alertado sobre os riscos durante as 48 horas que antecederam a quebradeira. Gonçalves Dias alegaria depois que mensagem de Zap não é informe de inteligência.
Cavalgando essa lambança, inquérito do Exército inocentou os militares que deveriam ter protegido o prédio do Planalto e responsabilizou o GSI pela falta de planejamento. Nesse contexto, um depoimento a portas fechadas do sujeito que comandava a Abin numa CPI convocada para acender a luz do golpe seria, além de ridículo, desrespeitoso com a plateia.
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