Questão não é colocar o pobre no orçamento, mas tirar o rico
Não há privilégio mais maravilhoso do que torrar o dinheiro alheio. Operando como cego em tiroteio, a Receita Federal obrigou empresas a fornecer dados que já estão diante dos seus olhos.
Cerca de 55 mil companhias informaram ao fisco que morderam R$ 97,7 bilhões em incentivos tributários nos primeiros oito meses do ano. Com metade desse valor, o ministro Fernando Haddad recolocaria as contas nacionais nos trilhos sem mexer no bolso dos brasileiros pobres.
Lula costuma dizer que sua prioridade é colocar o pobre no orçamento. Engano. O grande desafio do atual governo e de todos os que o antecederam desde a chegada das caravelas é tirar o rico do orçamento.
O custo anual de todos os mimos que transformam a coleta de tributos num queijo suíço ultrapassa os R$ 500 bilhões. A cifra é uma evidência de que os ricos compram apoio no Congresso. A pobreza não dispõe de porta-vozes.
Sob Lula, o governo não conseguiu colocar em pé um projeto de lei capaz de atenuar a desproteção dos trabalhadores de aplicativos. O iFood, porém, está no topo do ranking dos maiores beneficiários do Perse, um delivery tributário para o setor de eventos. Nele, o aplicativo de comida mastigou, entre janeiro e agosto, R$ 336 milhões em isenções.
Fica-se com a impressão de que a equipe econômica erra o alvo ao apontar a tesoura para o salário mínimo, a pensão dos velhinhos do BPC, as rubricas da saúde e da educação... Na verdade, falta ao governo disposição e apoio político para transferir o rico do orçamento para o Imposto de Renda.
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