Rosa Weber compõe trauma de Lula com a diversidade no STF
Um grampo vadio da Lava Jato, captado em 4 de março de 2016, ajuda a entender as razões que levaram Lula a desprezar a diversidade como critério para a escolha de ministros do Supremo. Conduzido coercitivamente pela Polícia Federal, Lula acabara de prestar depoimento por ordem de Sergio Moro. Estava uma arara. Sob escuta, dividiu sua irritação com a então presidente Dilma. Queixou-se da ousadia da "República de Curitiba". E lamentou: "Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada?"
Dilma passou o telefone para o então chefe da Casa Civil Jaques Wagner, hoje líder do governo no Senado. Lula pediu ao amigo petista que articulasse um contato com Rosa Weber, indicada ao Supremo por Dilma. "Está na mão dela para decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram". Referia-se a uma petição para tirar os casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia das mãos de Moro. No mesmo dia, Rosa indeferiu o pedido da defesa de Lula. Dois anos depois, em 2018, Rosa votou contra o habeas corpus que livraria Lula da cadeia.
Em mandatos anteriores, Lula indicou Joaquim Barbosa, o primeiro negro do Supremo Tribunal Federal, e Cármen Lúcia, a segunda mulher. Sob Dilma, avalizou a escolha de Rosa Weber, terceira e última toga feminina. "O critério não será mais esse", declara agora, para se desvencilhar da pressão pela escolha de uma jurista negra para a vaga de Rosa.
Atrasando-se um pouco mais o relógio, chega-se ao dia 26 de abril de 2012. Nessa data, Lula esteve no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça, da Defesa, e ex-presidente do Supremo. Encontrou-se com o dono do escritório e com o ministro Gilmar Mendes. O noticiário da época registra o relato de Gilmar.
Segundo Gilmar, Lula articulava o adiamento do julgamento do mensalão. Mais: ele cabalava votos. Sobre Cármen Lúcia, disse: "Vou falar com o [Sepúlveda] Pertence para cuidar dela." A respeito de Dias Toffoli, que cogitava dar-se por impedido, declarou: "Ele tem de participar do julgamento."
Na versão de Gilmar, Lula referiu-se a Joaquim Barbosa, relator do processo sobre o mensalão, como um "complexado". Parecia informado sobre o voto de Ricardo Lewandowski, ministro-revisor: "Ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem, mas está sofrendo muita pressão".
Jobim e Lula negaram o relato de Gilmar. Ficou a palavra de um contra a dos outros. Restou também outro trauma. O mensalão enviou à cadeia a cúpula do PT e os operadores do partido. Joaquim e Cármen foram implacáveis no julgamento.
Hoje, depois de vestir uma toga no seu advogado, Lula busca, com a luxuosa e irônica assessoria de Gilmar Mendes, outro apadrinhado para o qual possa telefonar quando julgar necessário. Lula agora segue o critério da intimidade. A diversidade trouxe azar e cadeia.
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