Autossabotagem tornou inócuo resultado da CPI do 8 de janeiro
Acusado de tramar um golpe contra si mesmo uma semana depois de tomar posse, Lula foi à CPI do 8 de janeiro em condição privilegiada. Majoritária na comissão, a bancada governista poderia ter submetido o golpismo ao mesmo nocaute que a CPI da Covid havia aplicado contra o negacionismo. Curiosamente, o governo utilizou sua maioria para vulgarizar a investigação parlamentar.
O relatório final da senadora Eliziane Gama traz coisas novas e boas. O que é bom não é novo, pois já consta dos inquéritos tocados pela Polícia Federal. O que é novo não é bom. Bolsonaro emerge do texto como chefe da organização golpista sem ter sido inquirido ou acareado com seu ex-ajudante de ordens, como chegou a ser cogitado. Os militares vão à ribalta como cúmplices sem que os protagonistas da farda tenham sido retirados de suas trincheiras.
O Planalto deu um boi, o general Gonçalves Dias, para entrar na briga. Depois, deu uma boiada para sair dela. Com medo de oferecer palco a um Bolsonaro já inelegível, os governistas evitaram convocar o capitão para depor na CPI. Para não melindrar as Forças Armadas, livraram do constrangimento também os generais que fomentaram o golpe e até o almirante que, segundo o delator Mauro Cid, se dispôs a participar dele.
A autossabotagem tornou o relatório final da CPI do 8 de janeiro inócuo. Os pedidos de indiciamentos são meras recomendações, que a Procuradoria da República não deve atender antes da conclusão dos inquéritos oficiais. Brigando pelo empate, o governo livrou-se na CPI da tese terraplanista do autogolpe. Mas não produziu material que possa ser aproveitado pela PF como prova contra golpistas paisanos e, sobretudo, fardados.
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