Josias de Souza

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Preso morto: Além de cobrar, Moraes precisa dar explicação

Relator dos inquéritos sobre o 8 de Janeiro, Alexandre de Moraes apressou-se em cobrar da direção da penitenciária da Papuda "informações detalhadas" sobre a morte de Cleriston Pereira da Cunha, preso em flagrante no dia do quabra-quebra bas sedes dos Três Poderes. A providência é necessária e urgente. Mas Moraes precisa ser ainda mais rigoroso. Além de cobrar, precisa fornecer explicações.

Quatro em cada dez presos no Brasil dormem na cadeia sem uma sentença condenatória. São os chamados presos provisórios. É gente muito preta, muito parda e muito pobre. Gente que mofa e morre nos fundões do sistema prisional sem se notada. O caso de Cleriston é diferente. Réu por tentativa de golpe, é julgado na ribalta do Supremo e dispõe de dinheiro para a defesa.

O advogado Bruno Azevedo de Souza diz ter alertado o Supremo para a precariedade da saúde do seu cliente, às voltas com pressão alta, diabetes e resquícios de uma Covid. Afirma ter requerido habeas corpus oito vezes. Em setembro, a Procuradoria concordou. Concluída a investigação, manifestou-se a favor da liberação do réu, com tornozeleira.

Moraes poderia ter deferido o pedido do preso. Também poderia ter negado a pretensão, requisitando perícia médica independente. Mas optou pela única alternativa inadmissível: absteve-se de decidir sobre o pedido referendado pela Procuradoria. Pode ter sido displicência. Ou negligência. Seja como for, o "mal súbito" que levou à morte um preso do 8 de Janeiro durante o banho de sol na cadeia exige do também do relator do processo meia dúzia de explicações.

Como seria previsível, o bolsonarismo canibaliza o cadáver do preso num ritual de proselitismo ideológico. Mesmo quem não entende de politica enxerga a politicagem. Em matéria de segurança de presos, o bolsonarismo precisaria pegar em armas pelos direitos humanos dos pretos e pobres que morrem à mingua nos fundões do sistema carcerário para começar a ser levado a sério.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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