Lula precisa ajudar Gonet a não 'brincar' com Procuradoria-Geral
Lula discursou na posse de Paulo Gonet com um olho no retrovisor e outro no para-brisa. Olhando para trás, disse ao novo procurador-geral da República que o Ministério Público não pode imaginar que todo político é corrupto. Repetiu que, fora da política, chega-se a aventuras antidemocráticas como o 8 de janeiro. Declarou: "Se a gente quiser consagrar o regime democrático, o Ministério Público precisa jogar o jogo de verdade." Faltou definir jogo.
Olhando para a frente, Lula disse a Gonet que "o Ministério Público é uma instituição tão grande que nenhum procurador tem o direito de brincar com ela". Distribuiu ensinamentos ao substituto de Augusto Aras como quem brinca no lodo com o centrão depois do banho.
Enquanto tratar a corrupção como uma unha encravada, Lula dificilmente lidará com o tema de forma adequada. Na campanha, falou sobre a roubalheira como se tivesse dificuldades para convencer a si mesmo. Num debate, disse a certa altura "se houve corrupção na Petrobras" e, na sequência, "pode ter havido". De resto, reiterou que a Lava Jato produziu sentenças enviesadas, quebrou empreiteiras e prendeu inocentes.
A transferência de Sergio Moro para a política, com passagem pela equipe de Bolsonaro, expôs sua parcialidade. A Vaza Jato mostrou que juiz e procuradores formaram um conluio. Mas o assalto continua registrado no balanço da Petrobras.
Hoje, como ontem, a maneira mais fácil de evitar a criminalização da política é impedir que os políticos cometam crimes. A engrenagem do Estado é tão nobre que Lula não deveria permitir que o centrão continue plantando bananeira, por exemplo, dentro dos cofres de estatais como a Codevasf.
Ali, a corrupção viceja desde a gestão Bolsonaro. Mas tudo foi mantido sob Lula como se nada tivesse sido descoberto pela Polícia Federal. O trabalho de Gonet será incompleto se não incluir brincadeiras como essas da Codevasf.
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