Bolsonaro não viu o método que há no aceno de Valdemar a Lula
Mestre nas armações de bastidores, Valdemar Costa Neto passa a maior parte do tempo atrás dos holofotes. Quando decide agir em público, algo que ocorre apenas de raro em raro, calibra os movimentos a partir de cálculos do tipo custo-benefício. Sabia que mexeria num vespeiro quando declarou que "Lula tem muito prestígio", "tem popularidade", "é conhecido por todos brasileiros", enquanto "Bolsonaro não".
Em privado, Bolsonaro reagiu com nomes feios. Em público, levou às redes sociais um vídeo no qual joga no ventilador a hipótese de implosão do PL: "Tive um problema, não vou falar com quem. 'Olha, se continuar assim, você vai implodir o partido'. Pessoa do partido dando declaração absurda. Como 'o Lula é extremamente popular'. Manda ele vir tomar uma 51 na esquina ali. Não vem!"
Arbusto da árvore do centrão, o Partido Liberal é uma organização partidária com fins lucrativos. No final de 2021, Valdemar abrigou Bolsonaro, que o havia chamado de "corrupto" e "condenado", porque enxergou no matrimônio a perspectiva de aumentar o patrimônio do seu cartório. Funcionou.
Bolsonaro perdeu a reeleição. Mas o PL saiu das urnas de 2022 com a maior bancada da Câmara: 99 deputados. Como os cálculos dos fundos eleitoral e partidário baseiam-se no tamanho da bancada federal, Valdemar tornou-se gestor da mais vistosa caixa registradora do mercado partidário.
Valdemar premiou a inelegibilidade de Bolsonaro com um salário mensal no pressuposto de que o prestígio e a pose de vítima do capitão impulsionariam a eleição de mais de mil prefeitos em 2024. Agora, pisca para Lula, parceiro de verões passados, sem jogar Bolsonaro ao mar.
Com seu jogo duplo, Valdemar como que libera diretórios do PL assentados em redutos lulistas para se distanciar do bolsonarismo. Na improvável hipótese de Bolsonaro levar adiante sua ameaça, uma implosão não afetaria as finanças do partido.
Mesmo que a ala bolsonarista debandasse do PL, o cálculo que define o tamanho das arcas levaria em conta a bancada eleita em 2022. Significa dizer que, até 2026, quando o Congresso será renovado, Valdemar continuará nadando em verbas públicas.
Bolsonaro demora a perceber. Mas há método no flerte de Valdemar com Lula. É como se o oligarca do PL enxergasse a conveniência de diversificar seus investimentos. Avesso ao risco, Valdemar aplica na política a lógica dos consultores financeiros que aconselham sua clientela a não colocar todos os ovos num mesmo cesto.
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