Falas de Ramagem reforçam os indícios levantados contra ele
Sob as regras do devido processo legal, um dos trechos cruciais de qualquer investigação é a defesa do investigado. Estrela da nova fase do inquérito sobre a Abin paralela, o deputado Alexandre Ramagem, policial federal de carreira, não quis depor à PF. Mas falou à imprensa. Em vez de se defender, complicou-se.
"Nenhum plano de operação, em três anos de Abin, assinado por mim, colocava a utilização do FirstMile", disse Ramagem, referindo-se à ferramenta de fabricação israelense usada sob Bolsonaro para monitorar ilegalmente autoridades e desafetos políticos. No afã de negar, o investigado confirmou os achados da PF, pois espionagem clandestina não consta mesmo de "plano de operação" oficial.
Ramagem soou enfático ao comentar as evidências de que o equipamento de espionagem foi acionado clandestinamente contra alvos do interesse de Bolsonaro. "Se o policial usa a arma equivocadamente, não é culpa do diretor-geral". Nesse trecho, esquivou-se de sua responsabilidade sem negar a malfeitoria. Jogou ao mar os ex-subordinados.
A julgar por suas explicações, Ramagem avalia que, sob sua direção, a Abin converteu-se numa espécie de sucursal da Casa da Mãe Joana. Ou do Pai Bolsonaro. Nessa repartição, espionava-se à margem da lei, sem que o chefe tivesse controle sobre os meios usados pelos subordinados.
A tese da balbúrdia não é boa. Mas é a saída mais confortável para Ramagem. A alternativa exigiria uma dose maior de criatividade. O investigado precisaria convencer a plateia de que tudo o que está na cara não passa de uma conspiração da lei das probabilidades com a PF, a Procuradoria e o Xandão para incriminar mais um bolsonarista inocente.
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