Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Falas de Ramagem reforçam os indícios levantados contra ele

Sob as regras do devido processo legal, um dos trechos cruciais de qualquer investigação é a defesa do investigado. Estrela da nova fase do inquérito sobre a Abin paralela, o deputado Alexandre Ramagem, policial federal de carreira, não quis depor à PF. Mas falou à imprensa. Em vez de se defender, complicou-se.

"Nenhum plano de operação, em três anos de Abin, assinado por mim, colocava a utilização do FirstMile", disse Ramagem, referindo-se à ferramenta de fabricação israelense usada sob Bolsonaro para monitorar ilegalmente autoridades e desafetos políticos. No afã de negar, o investigado confirmou os achados da PF, pois espionagem clandestina não consta mesmo de "plano de operação" oficial.

Ramagem soou enfático ao comentar as evidências de que o equipamento de espionagem foi acionado clandestinamente contra alvos do interesse de Bolsonaro. "Se o policial usa a arma equivocadamente, não é culpa do diretor-geral". Nesse trecho, esquivou-se de sua responsabilidade sem negar a malfeitoria. Jogou ao mar os ex-subordinados.

A julgar por suas explicações, Ramagem avalia que, sob sua direção, a Abin converteu-se numa espécie de sucursal da Casa da Mãe Joana. Ou do Pai Bolsonaro. Nessa repartição, espionava-se à margem da lei, sem que o chefe tivesse controle sobre os meios usados pelos subordinados.

A tese da balbúrdia não é boa. Mas é a saída mais confortável para Ramagem. A alternativa exigiria uma dose maior de criatividade. O investigado precisaria convencer a plateia de que tudo o que está na cara não passa de uma conspiração da lei das probabilidades com a PF, a Procuradoria e o Xandão para incriminar mais um bolsonarista inocente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes